Há cantores que apenas cantam. E quando o fazem bem, já seria o bastante. Há outros, contudo, que criam estilos, determinam rumos, dividem épocas. Exatamente isso ocorreu com o cantor Mário Reis. Reconheço que seu nome poderá ser desconhecido para a maioria dos leitores. E é exatamente por isso que o Instituto Cultural Cravo Albin criou em sua sede histórica da Urca o Comitê Mário Reis – 100 anos. A razão é óbvia: trata-se do centenário do cantor carioca. Que precisa ser apresentado às gerações menos ligadas ao que vale a pena em MPB. Mário, que começou carreira há oitenta anos, riscou o céu da canção popular como uma estrela fulgurante de originalidades e bossas, ao criar peças clássicas como Jura (de Sinhô) e Se você jurar (de Ismael Silva). Ele inovou sua época – os anos 20 e 30 – cantando tão pausada e docemente que sua voz mais sussurava que botava pra fora pulmões (como Vicente Celestino). Mário seria, quem sabe?, a gênese do cantar de João Gilberto, quando nasceu a bossa nova.
O Comitê Mário Reis – 100, que trabalha para recuperar a memória deste raro personagem, pretende convidar para aderir a esse esforço Millor Fernandes e Chico Buarque, dois confessos admiradores de Mário. O prestígio de ambos seriam ferramentas solidárias para tirar o cantor das brumas do olvido.
Os abnegados que integram o comitê, entre eles os jornalistas Antônio Carlos Miguel, Luiz Antônio Giron e Cláudio Petraglia, além de Martinho da Vila, de Antônio Fernando de Franceschi (Presidente do Instituto Moreira Salles), da família de Mário (com Alicinha Silveira e Ângela Catão, à frente) e do representante da Câmara de Vereadores, Rogério Bittar), já pensam em eventos que sacudirão o Rio: show no Golden Room do Copa (Mário lá morou décadas a fio, onde foi amigo de Cláudia Fialho, do Hotel e também do comitê), missa e sessão solene na Câmara. E, finalmente, show no réveillon celebrando os 100 anos de Mário. Que nasceu, imaginem, exatamente no dia 31 de dezembro. Junto com o ano novo…
Ricardo Cravo Albin
www.dicionariompb.com.br