O Museu da Imagem e do Som sempre foi um núcleo de excelência para preservação da música carioca. Lá estão depositados acervos importantes como os de Almirante, Lúcio Rangel e Jacob do Bandolim, todos comprados de seus titulares. Doações, contudo, são raras num país que infelizmente não promove (como nos Estados Unidos e Alemanha) estímulos para os doadores.
Acabo de saber, encantado, da entrega feita por Sérgio Cabral (pai) de seu acervo para o nosso MIS, onde, aliás, fomos companheiros há exatos 40 anos, no Conselho Superior de MPB que eu então presidia, na qualidade de estruturador da casa que então nascia. De mais a mais, do Sérgio sempre colecionei boas recordações e a ele devo gentilezas e simpatia nesses quase 50 anos de convivência. O MIS, contudo, sempre esteve presente em nossas convergências comuns.
Agora, o gesto de doar seu acervo musical ao MIS amanhã, na Sala Cecília Meireles, ao cumprir 70 anos de idade, faz do aniversário um ato que transcende o puro afeto pessoal. Agrega-se o Sérgio Cabral, esse amante do samba carioca e “causeur” irresistível das mesas boêmias do Rio, ao panteão dos que, desprendidamente, se despem de seus bens culturais (ou não) e os passam para uma utilização comum. Como a família Ivon Curi e Ney Murce (neto de Renato) fizeram recentemente ao Instituto Cravo Albin.
E isso é muitíssimo conveniente num país que mal preserva a memória, os acervos, os bens inseridos nas referências culturais que devem ser guardadas para sempre. Até porque, para ficar apenas no campo da música popular, há coleções preciosas que careceriam de abrigo institucional, como os de colecionadores já falecidos do porte de Ary Vasconcellos, Grácio Barbalho, Aramis Millarch ou Miécio Caffé.
Daqui apelo ao poder público que estimule as doações, liberando – quem sabe – impostos de doadores em potencial. Ou os protegendo – sei lá – com mecanismos outros a serem imaginados.
Ricardo Cravo Albin
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