A história do carnaval carioca começa com um grande baile. Isso ocorreu em 1840, num dos hotéis principais (Hotel Itália) do então acanhadíssimo Rio de Janeiro. A partir daí, os bailes de carnaval se espalharam pelo Rio, culminando nas décadas de 30 e 60 com os do Theatro Municipal. Quem viveu aquele frêmito de mais de 6 mil pessoas no austero Theatro, jamais há de esquecer. Aliás, o primeiro baile do Municipal em 1932 assinala também o início da oficialização do carnaval, quando os desfiles públicos nas ruas eram constituídos pelos Ranchos, as Grandes Sociedades (o mais disputado) e as Escolas de Samba, então muito tímidas, pobres e sem apoio popular.
Com o término do Baile de Gala do Municipal nos anos 60, os festejos de rua acabariam por tomar o lugar dos bailes, até então a referência número um do carnaval carioca. A partir do apogeu das Escolas de Samba nos anos 70, seus camarotes pulverizariam os grandes bailes no carnaval do Rio. Quando, há alguns anos, o Baile de Gala do Copacabana Palace se fez presente de novo nos festejos cariocas, eu apostei que ele resplandeceria mais uma vez. Não deu outra. Hoje, o mais famoso hotel do Brasil produz o melhor baile de carnaval do mundo. Conversando com Cláudia Fialho e Phillip Carruthers (responsáveis pelo Copa) sobre a estratégia desse sucesso, ambos me revelaram um dado definidor do espírito carnavalesco carioca.
O Hotel, se quisesse, venderia todos os ingressos para os turistas estrangeiros. Pedidos há, e muitos. Só que a cota para eles é rigidamente limitada a 30% da lotação. Sabem por quê? Porque os outros 70% são destinados aos brasileiros. Pela comovente razão de que só nós – em especial os cariocas – somos capazes de introjetar no Baile de Gala doses cavalares de alegria, descontração e charme. Ou seja, a solaridade e o frisson que fazem do Brasil o país do carnaval. E dos quais o mundo inteiro anda carente.
Ricardo Cravo Albin
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