Sussurros e murmúrios, ou mesmo clamores e alaridos, quase sempre existem nas trocas de governos, em especial quando suas estruturas ideológicas se opõem.
Agora mesmo, fui assaltado por um terremoto de insensatez, quase de horror, ao ouvir dizer que a Rádio MEC iria se finar.
Devo logo esclarecer que isso decorreria da extinção de uma tal EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), instituição parida em 2008 para agregar as emissoras oficiais. Só que – talvez por isso mesmo – tivesse naufragado em empreguismo e má gestão. Compreendo bem que os recém chegados à governança do país vejam com estranheza o estado crítico a que essa EBC chegou. Aliás, nós, os defensores de sempre do legado de Roquette Pinto, que doou em 1936 a sua pioneira emissora ao país (não ao governo, mas ao Estado, através do Ministério da Educação, e atenção para o detalhe, educação + cultura), sempre lutamos contra a tal EBC. Que desterrou a Rádio MEC de seu prédio histórico, lá abandonando seu riquíssimo acervo e o monumental estúdio sinfônico. O pior: transferindo-a para o acanhamento constrangedor do prédio da antiga TVE, atual TV Brasil. Pois bem, transformo agora esta crônica em apelo ao Presidente da Republica. Todos os demais dirigentes anteriores, de resto, fizeram ouvidos mocos dede 2008 a um grupo de notáveis da emissora. Incluindo os principais maestros, e/ou produtores históricos como Renato Rocha, Lauro Gomes, Luciana Medeiros e até Fernanda Montenegro, que lá começou sua carreira. Todos clamávamos que se honrasse a criação do fundador Roquete Pinto, mantendo não só as duas emissoras MEC (AM, e sobretudo a FM, a única no dial a tocar músicas clássicas), como restituísse a elas sua sede histórica na Praça da República.
Não de hoje, a comunidade cultural independente luta para que o legado mais importante da história da radiofonia, a nossa emissora, voltasse a ser prestigiado. E custa pouco sua manutenção, muito pouco, frente à gastança desenfreada imposta (implico com o nome sim) pela tal EBC.
Vale lembrar que o sábio Roquette Pinto fundou a hoje MEC com o nome de Radio Sociedade em 1922 (para o centenário da Independência) e ela foi ao ar, pioneiríssima, no ano seguinte, inaugurando a épica Era do Rádio, que uniu um país continental, que mal se intercomunicava.
Os anos 30 (e o Governo Vargas os terá impulsionado com agudeza política) consolidaram a radiofonia. Ou seja, também permitiram ao Brasil criar seus primeiros ídolos de massa, como cantores e compositores (de Noel Rosa a Villa Lobos, de Bidu Sayão à Carmem Miranda), além de dar voz a escritores como Bandeira, Drummond, Cecília e tantos outros gênios da literatura.
Portanto, perdoem-me transformar uma croniqueta que deveria ser leve como pluma em austero apelo, quase chumbo, às autoridades.
Que devem repor a verdade e o interesse público. Vilipendiados já por uma década.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin