Estou convicto de que a tragédia cultural deste 2018 foi o gravíssimo incêndio do Museu Nacional. Por outro lado, também estou certo de que outro museu será finalmente inaugurado no Rio. O Museu da Imagem e do Som foi mimoseado com a sigla MIS desde sua fundação em 1965, quando assumi sua direção-executiva para priorizar uma ação cultural que pudesse projetá-lo para a opinião pública. Por um triz ele não foi desmontado pelo então BEG (depois Banerj), correndo grande risco de desaparecer.
Ao longo de sete anos, com criatividade e nenhum dinheiro transformamos o MIS no mais bem sucedido museu novo do país, graças à originalidade dele, que foram as suas sempre famosas gravações para a posteridade. Que puseram o museu de pé como um mito em novidade arquivística.
Recuperar a memória da cidade foi o desafio de sempre do MIS e dos diretores que me sucederam, inclusive as atuais Rosa Araujo e Rachel Valença, amigas minhas pela fidelidade e devoção ao Império Serrano. Todos os muitos diretores que me sucederam foram desabridos guardiões da porta que abre os tesouros do passado e a captação do presente. O ontem preservado determinará um futuro definido e justo. Sempre afirmo que somos perdulários em arrastar para debaixo do tapete os melhores fazimentos do povo brasileiro. Mas não devo apenas lastimar a continuidade do descuido e do desdém, que nos assola desde sempre. O nosso MIS, o museu preservado desde 1965, foi e ainda é o ocupante – por seis décadas – do castelinho encantador da Praça XV, um dos dois únicos remanescentes da Exposição de 1922 (o outro é o Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras).
Como que para louvar o passado cheio de glorias e inovações constrói-se, por longos anos, uma nova sede na Avenida Atlântica. Para abrigar um MIS sem acervo, somente digital. Mas cujas sucessivas demoras no ficar pronto me preocupam e consternam. E não só eu, mas toda a consciência cultural da cidade. Onde ficará o preciosíssimo acervo material? Outra grave inquietação é o destino do prédio histórico e (indispensável) que abrigou o sucesso e a fixação do MIS durante décadas ao lado do Museu Histórico Nacional. O que vão fazer dele, meu Deus? Permito-me disparar daqui dois pedidos aflitos. O primeiro é destinado à Fundação Roberto Marinho, para o eficaz curador Hugo Sukman assumir a finalização do MIS já com o governador Wilson Witzel, que tão bem conhece instituições culturais (como por exemplo, o Instituto Cravo Albin). E a solicitação, quase de joelhos, ao Tribunal de Justiça para que entregue de volta ao Governador Witzel o nosso adorável predinho de 1922. Uma referência cultural indispensável ao perfil de uma cidade tão descuidada em relação às suas fixações urbanísticas, estéticas e históricas.
Ricardo Cravo Albin
Presidente
Instituto Cultural Cravo Albin