Ivone Lara cumpriu uma longa e maturada carreira dentro da música popular. Nesse mais de meio século ela produziu originalidades que nos encantaram a todos. Como não considerar originalidade o fato de ela, mulher e mãe de família, ingressar na ala dos compositores do então recém-fundado Império Serrano, isso quando a ala era um clube apenas de homens, ao finzinho dos anos 40? Ivone Lara – eu diria sem medo de errar – foi tão pioneira com esse evento extraordinário quanto Chiquinha Gonzaga o fora menos de cem antes ao abraçar e praticar, com fúria e volúpia, a música carioca, também exclusiva dos adões.
E como não considerar originalidade o fato de ela ter composto sambas-enredo memoráveis para o Verde e Branco, levando-o à conquista de títulos?
Finalmente, como não se chamar de originalidade o fato de Ivone Lara ter cumprido uma carreira de compositora, onde melodias refinadas estão sempre à disposição da dignidade do samba e de seu vértice de excelência?
Portanto, seja como mulher pioneira nas escolas e como compositora de clássicos da MPB, seja como cantora portentosa e como personagem de irresistível fascínio pessoal, Ivone Lara fez por onde merecer o consagrador dona antes do nome. O dona de Ivone outro significado não terá senão a versão honorífica do império britânico. Ela é, sim, nossa única dama de realeza da MPB: Dame Ivone Lara. À bênção e Axé!
Ricardo Cravo Albin