O Museu da Imagem e do Som foi celebrado pela sigla MIS desde sua fundação em 1965, quando assumi sua direção-executiva para não imaginar o que fazer dele como lançá-lo para opinião pública. Por um triz ele não foi desmontado pelo então BEG (depois Banerj, depois o nada), correndo grande risco de desaparecer.
Quase sete anos depois o MIS transformou-se no mais conceituado museu do país, graças a intensidade que imprimi às suas gravações para a posteridade, que inclui em 1966, projetando inicialmente os pioneiros da cultura popular da cidade. Que passaram a ostentar o valioso título de “pioneiros da posteridade do Rio” em 1971, dei por consolidada a luta ferrenha de sua implantação, que começou nos dois últimos meses de 1965, ainda no verdor dos meus 25 anos. Recuperar a memória da cidade foi o desafio de sempre do MIS e de seus diretores, todos eles desabridos guardiões da porta que abre os tesouros tanto dos sortilégios do passado, quanto da captação do presente. O ontem preservado e determinará um futuro definido e justo. Justo sim, porque este país é perdulário em arrastar para debaixo do tapete os melhores fazímentos de seu povo e dos seus filhos mais arrebatadores. Mas não devo apenas lastimar a continuidade do descuido e do desdém neste país. Meu objetivo é louvar aqui o mais original dos museus da cidade desde 1965. Original? Por certo, até porque o MIS inventou o depoimento para a posteridade, captando para o seu acervo as impressões das vidas e dos feitos dos cidadãos que valem à pena. E isso sem preconceito de qualquer espécie. Paralelamente aos testemunhos acolhidos em nossa atualidade, o Museu criou os conselhos de críticos, não só para definir os nomes que gravariam para a posteridade, senão também para votar os prêmios Golfinho de Ouro e Estácio de Sá (proclamando o melhor do ano). Tudo isso, e ainda a edição de muitos elepês, ajudou o Museu a ser instituição de prestígio nacional. O nosso MIS, o museu preservado pelos diretores ao longo de cinco décadas, foi e ainda é o ocupante – por meio século – do castelinho encantador da Praça xv, um dos dois remanescentes da Exposição de 1922. Como que para celebrar o passado cheio de glorias e inovações, constrói-se agora um novo MIS na Avenida Atlântica. Mas cuja sucessivas demoras me preocupam e consternam. E não só eu, mas toda a consciência cultural da cidade. Outra grave inquietação é o destino do prédio encantador que abrigou todo o sucesso e a fixação do MIS durante décadas. O que vão fazer dele, Deus do céu? E não me venham com a história (de horror) que será entregue ao Tribunal de Justiça para guardar arquivos burocráticos…
Em 14 de setembro de 2017
Ricardo Cravo Albin
Presidente Instituto Cultural Cravo Albin