É da natureza humana que os semelhantes se aproximem, se afinem e, se possível, se estimem. Pactos de cordialidade deveriam ser da essência dos que se agregam em torno de uma determinada idéia. Razão por que o francês Montesquieu vaticinou, do alto de sua sabedoria, que os chamados iguais careciam, acima de qualquer outra convergência de comportamento, serem… cordiais. Este tipo de procedimento é destroçado impiamente (muito mais agora), pelos políticos que nos representam nos tempos obscuros de hoje.
As pontuações acima vêm a propósito do que tenho observado, e não de hoje, na Academia Brasileira de Letras. Os quarenta intelectuais que a integram sinalizam uma forma miniaturizada de gestão e de comportamento ideais, ou próxima disso. Não sem razão são conhecidos como imortais, talvez uma homenagem a que o Brasil se afeiçoou pela exemplaridade do funcionamento da Casa. Seria, por que não? , a idealização da República perfeita dos antigos filósofos gregos, ou seja, cidadãos, notáveis em respeitabilidade, a gerir a Coisa Pública. De fato, acho que a atmosfera que existe entre os pares da ABL, bem merece o “Senado” que os abriga, o encantador Petit Trianon, raríssimo exemplar arquitetônico da exposição de 1922, destruída despudoradamente pela escassez de cultura e de sensibilidade, além de falta de visão histórica, dos prefeitos da cidade.
Nos últimos anos, já há muitos, a Academia Brasileira, criada por Machado de Assis nos moldes da Academia Francesa, transformou-se em uma fábrica de ações culturais. Que não cuida apenas de letras, mas avança destemidamente por todos os desvãos do conhecimento humano, que podem ir da política aos desafios de teses audaciosas, seminários, ciclos de palestras e ainda concertos de música(inclusive a popular).
Há pouquíssimo tempo, abriram-se três vagas simultâneas. E vocês não imaginam, embora disputadíssimas por qualquer intelectual do Brasil, como se comportam os muitos candidatos às três cadeiras. Todos elegantes e bem enquadrados no exemplo pétreo dos acadêmicos que lá se assentam, onde despontam a cordialidade e, sobretudo, o convívio amável. Há dias foram eleitos dois intelectuais de alta qualidade, o poeta e dramaturgo Geraldinho Carneiro e o ensaísta e economista Edmar Bacha.
Aquela figura caricatural de velhinhos apenas tomando chá, e esgrimindo teses inúteis ou “literaturice” casmurra, é coisa do passado.
Hoje, a contemporaneidade ilumina o nosso Senado Cultural. Os quarenta “Senadores” contribuem para um modelo de país mais civilizado e mais refinado em comportamento. A quase sempre péssima e brutal atuação dos políticos pode melhorar, se olhar o espelho da ABL. Resta mirar…
11 de novembro de 2016
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin