Como estamos às vésperas do maior evento esportivo do mundo, que acompanho por décadas a fio, ainda me belisco, vez por outra, para ter a certeza de que tudo ocorrerá no Rio, às nossas barbas, em proximidade estonteante de apenas poucos dias, que conto um a um.
Vejo com desdém, ou melhor, com indignação, todas as notícias negativas que se publicam contra minha cidade. Não importa que muitas até procedentes, porque sedimentadas em malfeitos e descuidos imperdoáveis, que combati ferozmente ao longo de décadas. Claro que a poluição da Baía de Guanabara e a do sistema de lacunas da Barra da Tijuca – Jacarepaguá nos envergonha desde sempre, ou seja, de muitas (ou menos) décadas para cá. Mas confesso que repilo o fato de protestarmos logo agora, e ainda vociferarmos nossos (gravíssimos) erros pela imprensa. Alguns calhordas, inclusive, acham muito engraçadinho e original procurarem a imprensa internacional para erguer o dedo acusador contra o Rio, e nos delatar. Pelo amor de Deus… Agora não, de forma algum neste exato momento de recepção aos jogos. Isso não se faz, nem pode ser perdoado qualquer carioca que nos cause tamanho malefício.
Ok, assumo que devemos esconder o que pudermos. Devemos, sim, vestir o rei nu, assim posto pela desídia abominável dos governantes. Depois da grande festa, aí sim, será a hora justa e necessária de vomitarmos nossa cidadania ultrajada, as promessas não-cumpridas, as mentiras de décadas de péssima administração. Além de exigirmos que todos os legados apregoados para o benefício da cidade, sejam, de fato, cumpridos.
Quando leio que muitos zombam do esquema de segurança que estamos montando contra o terrorismo, vale apregoar os esforços e sacrifícios de todo um conjunto de medidas, que começam a ser elogiadas pelos serviços de segurança de quase todo o mundo.
Perdoem-me a possível exacerbação que brado aqui, talvez um tanto adolescente. Mas que assumo agora com prazer (e dever, creio eu), assinalando com todas as letras que penso exatamente isso, sem tirar nem por. Acusem-me de riomaníaco, de tentar esconder o óbvio, de totalmente defender o que é indefensável. Não importa. O fato invejável é que receberemos cerca de um milhão de visitantes. E os olhos de todo o planeta estarão assentados no Rio.
Defendê-lo, com ardor e sem medo, torna-se uma questão de vergonha na cara.
22 de julho de 2016
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto
Cultural Cravo Albin