A liberdade de expressão e de imprensa é considerada – e sempre foi – a pedra angular da convivência entre governantes e governados. O ser livre tem como direito básico o poder falar, “o expressar por palavras ou por escritos o que lhe vai na alma e na garganta, “como vomitou Voltaire em desabafo veemente ao longo de diatribes de seu tempo.
Pois é precisamente em nossa contemporaneidade, a do Brasil de hoje, com controversas mudanças políticas, que o falar e escrever sem amarras fecunda a liberdade da imprensa. Ou seja, são valores de essência, que nos são preciosos, porque já os perdemos em tempos autoritários de décadas recentes, ou mesmo mais remotas, anos 30, virada dos 40.
Estes tempos de possíveis mudanças de governo sempre são preocupantes em relação a valores a serem preservados, a serem reconhecidos, a serem respeitados. E até melhorados.
Jamais poderão se esconder certos cânones de comportamento institucional e político, que haverão de ser incensados a cada governo, à cada geração, a cada novo desenho de país.
A liberdade de expressão e de imprensa representa um pilar. Um fundamento de essência, acima de qualquer outro.
A liberdade de falar e pensar não só me é assunto de intimidade e de gosto, mas de ação concreta, quando empunhei armas contra a censura de diversões públicas entre 1979 e 1989, desde o final do governo militar até mesmo ao começo da Nova República.
Comprovei a insensatez da censura, e me indignei com a sistematização da burrice e da truculência de vetos ao teatro, ao cinema, às músicas e, sobretudo, aos livros. Lutamos, Pompeu de Sousa, Daniel Rocha, Susana de Moraes, entre outros companheiros queridos, em representação da sociedade civil (ABL, SBAT, ABI, ABERT, cineastas entre outros) contra a horrenda DCDP (Departamento de Censura de Diversões Públicas). E isso às barbas do Ministério da Justiça. O que, aliás, me rendeu uma conquista, o livro “Driblando a Censura” ou “De como o cutelo vil incidiu sobre a cultura” (Editora Gryphus 2002).
Naqueles tempos de defesa da liberdade de expressão, exaltávamos com convicção fervorosa a frase “é sempre melhor o barulho e o despudor das vozes da democracia ao silêncio das falácias virtuosas e das falas escondidas da ditadura”.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin