Confesso que há muito tempo não subia às favelas. Lá ia em reuniões de assistência social ou, por vezes, levado por sambistas, em buscas de talentos e originalidades.
Subi o Pavão-Pavãozinho instado por meu amigo Daniel Plá. E mal acreditei no que vi. Primeiro a surpresa de adentrar a velha carcaça do que seria um hotel de luxo – encarapitado lá no alto do morro- transformado numa fábrica febril em favor das crianças da comunidade. Crianças compartilhando uma piscina de águas translúcidas, salas de aula, cabines individuais de internet a não acabar. Aliás, esse item é particularmente comovedor, porque dividido para grupos de idades diversas, desde as de jardim de infância até a adultos.
E, finalmente, a surpresa maior: a Orquestra Sinfônica das crianças do morro. Ali me encontrei com Turibio Santos. Ouvimos a criançada encerrar o concerto com o Samba do Avião, de Tom Jobim. Emocionados, Turibio e eu nos entreolhamos e assentimos no quanto o Tom – ali estivesse – estaria surpreso e feliz. Conduzidos por pelo coordenador do conjunto, que irradia emoção por todos os poros, o Prof. Jairo Coutinho, aprendemos que essa sequência de acertos, essa possibilidade de redução da pobreza, enfim, deve-se à integração de instituições como a Criança Esperança, a UNESCO. E ao apoio do Governo do Estado, com a atenta Secretária Estadual de Educação Teresa Porto a frente.. Prova provada – e irradiadora – de que quando instituições se articulam as coisas impossíveis ficam possíveis.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
www.dicionariompb.com.br
Título original: CANTAGALO, PAVÃO E PAVÃOZINHO