Por séculos a fio costuma-se repetir o ditado: “Atrás de um grande homem estará quase sempre uma grande mulher.” Dos nossos presidentes, por exemplo, quem não lembra de anjos tutelares como Darcy Vargas ou Marly Sarney?
Para os escritores – esses homens especiais, até pela originalidade de serem artistas criadores – as mulheres são ainda mais necessárias. Quando não essenciais.
Deparei-me ao longo da vida com muitas dessas mulheres memoráveis.
Para citar apenas um anjo clássico, acode-me Zélia Gattai, companheira de Jorge Amado. Antes do ofício de manejar as letras, ela propulsionava com maestria a carreira do marido.
Outra mulher de escritor é Maria do Carmo Vilaça. Bem mais contemporânea que Zélia, bem menos notória, embora igualmente seguríssima, pelas veias de Maria pulsa tinhoso sangue pernambucano. Um sangue cuja nobreza estará plantada na força telúrica dos verdes da terra dos Guararapes, os dos canaviais e os dos mares.
Maria do Carmo é mulher de Marcos Vinícios Vilaça e mãe do pranteado Marcantônio Vilaça. Ela alia a elegância da discrição à força leonina, ambas à disposição permanente dos homens de sua vida: o marido, esse inovador presidente da Academia Brasileira de Letras e o filho, de cujas memória e saudade cuida com fervor. Ao velar com paixão o filho morto, Maria do Carmo agrega a si um adjetivo raro, o de uma mulher comovedora. Marcantônio, ceifado no melhor da idade e no desabrochar esplendoroso do trabalho de descobridor de artistas e da beleza das artes plásticas do Brasil, bem merece da mãe tais desvelos para preservar pulsante a memória de seus trabalhos. Tanto que a persistência desses ecos produzidos por Maria me lembra a de uma mater dolorosa.
Em recente jantar no qual foi homenageada por escritores, especialmente os colegas de Academia de Marcos Vilaça, essa rara mulher foi saudada com poema de Odylo Costa Filho, que a considerava baronesa. Uma fidalga, tanto pelo sangue, misto de azul (pela nobreza da alma) e de verde (legado dos mares e canaviais da terra natal), quanto pela vigília sem esmorecimentos aos seus dois homens.
Benditas sejam as mulheres. Sobretudo aquelas que propulsionam e enriquecem homens que valem a pena neste país cada vez mais desavergonhado.
Ricardo Cravo Albin
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