Qualquer museu, em qualquer cidade civilizada do mundo, é objeto de acarinhamento, e dificilmente fecha as portas, senão por motivo específico.
Eu, por exemplo, não só convivo com museus a vida inteira, como nutro por eles respeito reverencial, quase sacralizado. Não à toa, tomei no colo em 1965 o recém-inaugurado Museu da Imagem e do Som, que ninguém sabia o que era, e que esteve até ameaçado de ser desativado. Salvei-o (atrevo-me a dizer) ao criar fato inamovível que o fez saltar para a opinião pública, os hoje célebres depoimentos para a posteridade. A repercussão do MIS foi tão intensa, que, convidado por prefeitos e governadores, saí pelo país a semear mais de uma dezena de museus nos mesmos moldes do MIS pioneiro.
Mas nem todos ostentam o destino do meu amado Museu da Imagem e do Som. Explico: há duas décadas inaugurou-se à Rua da Constituição, pleno centro histórico do Rio, o Museu do Rádio Roberto Marinho – instalado em sobrado colonial magnificamente reconstruído por esforços do jornalista Augusto Ariston.
Desativado para visitação pública, o casarão foi requisitado há meses por seu proprietário, o governo do Estado. Resultado: o acervo de peças radiofônicas da opulenta Era do Rádio, como microfones, painéis de fotos, toca-discos raros e elepês estarão sendo empacotadas depois de amanhã pela AERJ (Associação de Emissoras de Rádio do Estado do Rio de Janeiro), e à procura de abrigo seguro. Quando vi o acervo há meses, fiquei certo de que a destinação dele deveria ser a de instituição congênere. E jamais disperso como um mal-me- quer banal, em que cada interessado leva uma pétala. Por essa justa razão, – e também na tentativa de preservar o lindo casarão – convidei a primeira dama do Estado, Maria Lúcia Jardim, rara e culta intelectual dentre as mulheres de governadores, a visitar o já desativado Museu do Rádio, e seu espaço portentoso. O olhar de Maria Lúcia foi de espanto. E de solidariedade possível.
24 de julho de 2015
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cravo Albin