Quem viveu a febre dos festivais de MPB na segunda metade dos anos 60 (1965-1971) reconhece a musculatura que ela agregou à nossa música popular. E quem gosta, como eu, da história e da diversidade do canto do povo, terá sido aquinhoado naquela época com uma torrente de talentos como nunca se terá visto, nem antes, nem depois dos festivais. Dou meu testemunho pessoal porque fui integrante dos júris de quase todos eles como diretor-executivo do Museu da Imagem e do Som, então em febril consagração pública. E como eram diversificadas, até assustadoramente abrangentes, aquelas competições… Elas iam do FIC da TV Globo aos patamares modestos de quase todos os colégios de ensino médio e universitário, passando até por duas originalidades , o Festival de Músicas de Carnaval, que criei no MIS com transmissão da TV Tupi, e o Festival de Música Erudita, que fiz com Edino Krieger na Sala Cecília Meirelles. Pois bem, gente do calibre de Chico Buarque, Milton Nascimento, Dori Caymmi ou Nelson Motta foram frutos dos Festivais. Bem como Ivan Lins ou Aldir Blanc, para citar só dois, também nasceram a partir dos Festivais de Música Estudantil. Sim, esses também existiram e foram febre naquele qüinqüênio irradiador. Pois eles voltam agora em edição de 2014.
Participei no final desta semana do Festival Estudantil da Música Brasileira. Onde? Em Caxias, cuja população abraçou com volúpia a novidade, com concorrentes do ensino médio e de cursos universitários. Ali pude testemunhar a carpintaria do talento do jovem brasileiro, faceando sua música e se embriagando com ela.
O Festival de Caxias, organizado pelo veterano de certames Adonis Karan e por Omar Marzagão (filho de Augusto, o criador do FIC em 1966), parece que veio para ficar. Certamente poderá espalhar-se que nem pólvora para a Baixada Fluminense. E o milagre da multiplicação dos pães festivalescos, quem sabe?, poderá ressurgir.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do
Instituto Cultural Cravo Albin