Sempre penso que as verdades absolutas são a proximidade mais flagrante do erro.
Eu abri os olhos para o mundo, adolescente e logo depois universitário, navegando pela dicotomia esquerda ou direita, comunismo ou capitalismo, Bossa Nova ou música tradicional, cinema europeu ou americano. Embora compartilhando apaixonadamente da Bossa Nova que nascia, do cinema europeu e das esquerdas de então, no antigo CACO da Faculdade Nacional de Direito, sempre matutei sobre o maniqueísmo, sobre a possibilidade de o exclusivismo de idéias provocar reflexões.
Por que não observar os dois lados dos chamados certos ou errados? E, afinal, o que é o certo absoluto ou errado absoluto?
Um dos assuntos palpitantes, neste Brasil que cada vez mais se indigna com os malfeitos, é apedrejar a Copa do Mundo, e dentro dele até a nossa seleção. Como se o fato de não torcer pelo time redimisse o Brasil de tudo que ocorreu com as promessas descumpridas, com os estádios perdulários e a mobilidade inacabada, com os gastos absurdos para resultados duvidosos, com a truculência e excesso de mandonice da FIFA.
Não, jamais me animaria, por nada neste mundo, a torcer contra o futebol. Deixo logo claro que as manifestações são legítimas e necessárias, mas muitíssimo necessárias, desde que não vilipediem o direito, especialmente agora, de ir e vir da população. E, sobretudo, de facilidades para com os turistas que aqui aportam aos montes, e que pouco têm a ver com as nossas justas inquietações.
Nestes últimos dias, em que a torcida pelo “Canarinho” voltou a povoar nossos corações com o 3 à 1 contra a Croácia, é boa hora de reafirmar que as verdades absolutas, ou seja, o contra radical, são, como diria Nelson Rodrigues, ácidas e pusilânimes. Além, deve-se acrescentar, tão inatingíveis como o céu ou o inferno dos nossos antigos catecismos de infância.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin