Sempre me apraz andar pelo Rio, reconhecendo suas veredas, redescobrindo seus pontos culminantes. Alguém já observou, e com razão, que o carioca não conhece a cidade, deixando suas belezas e seduções para os turistas.
Eu, sempre que posso, faço a vilegiatura habitual deles, mergulhando na Floresta da Tijuca em direção do Cristo Redentor, ou adentrando no bondinho para o Pão-de-Açúcar, ou ainda me espremendo na Cantareira em direção à Paquetá. Aliás, quero logo, e melancolicamente, considerar que a última anda um tanto fora de moda, até porque esses três itens eram obrigatórios para qualquer visitante do Rio até os anos 80.
Agora, quando se fala de pontos cariocas de essência, os dois primeiros são de imediato selecionados. Mas repararam que nossa ilha não mais está na rota?
Acabo de voltar de Paquetá, onde encontrei algumas das razões desse desterro turístico. Claro que a ilha continua bela, ostentando – o melhor de tudo – suas ruas despidas do horror que é o automóvel. Ou seja, a originalidade de não se ter que ouvir o barulho de buzinas e motores, além de não se ser atropelado. Essa idéia salvou Paquetá, preservando-se as charretes e os taxis (para duas pessoas) de triciclo de bicicleta. Digo “salvou” porque a ilha vem acumulando alguns problemas conjunturais que chegam a dar dó.
A grande e primeira reclamação é a indigência da Cantareira, barcaça velhíssima, com banheiros imundos, entupida de vendedores ambulantes e de muito mais gente do que deveria transportar. Outros problemas são a surpreendente aparição de favelas em suas colinas verdes e a poluição de suas praias, o que torna o banho um altíssimo risco.
Paquetá, reduto desde sempre de poetas e músicos, carece de um choque de gestão. Só assim poderia voltar ao roteiro nacional e internacional dos turistas. Que anseiam, cada vez mais, por lugares de beleza e de charme.