Há exatos dois dias celebramos o centenário de Vinicius de Moraes. O poeta, de quem fui amigo e devoto, recebeu homenagens diversificadas. Mas ainda acho pouco, até porque Vinicius não foi um só, senão muitos. Foi o alto poeta de antologia. Foi o preciso letrista , que elevou a música popular a patamares nunca antes experimentados. Foi o fundador da Bossa Nova, além de ser parceiro e incentivador de jovens do porte de Tom Jobim, Carlos Lyra ou Baden Powell.
Vinicius foi, finalmente e antes de qualquer coisa, um grande sujeito, generoso, bom e fraterno. Quem o conheceu, a par de lhe sorver o talento e a sabedoria, experimentou sua grandeza como ser humano.
Nas preparações deste centenário de agora, fiquei eu muitíssimo mobilizado. O Instituto Cultural, que presido na Urca, pré anunciou este 19 de outubro. Ali fizemos, há quatro meses, uma exposição com peças raras do acervo de sua viúva Gilda Mattoso que foi visitada por centenas de escolares, ávidos em conhecer o Poeta. Agora mesmo, nesta semana do centenário, a movimentação se tornou quase sufocante para tantos de nós. No que me diz respeito, quero citar a sessão solene a que compareci em Brasília, quando o Congresso Nacional e sua Comissão de Cultura lhe fizeram a devida louvação.
Dentre tantos eventos, o que mais me cativou, foi o encontro no Rio que o Itamaraty promoveu para celebrar a memória de Vinicius com jovens diplomatas latino-americanos. Ali pude dissertar, durante toda uma manhã, sobre a dimensão abissal do Poetinha. E, enquanto falava, senti a emoção dos diplomatas estrangeiros. Todos, sem exceção, comovidos com o colega que teve a coragem de abandonar paletó e gravata para construir, no aconchego das mulheres e dos amigos, uma grandíssima obra. Em que sempre privilegiou o amor e a liberdade, a partir da provocação sem paralelos da poesia e da música.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cravo Albin