O filme “Flores Raras”, de Bruno Barreto, remete à memórias preciosas sobre o Rio como cidade.
Baseado em belo livro de Carmen de Oliveira – cuja pesquisa foi feita com paixão -, a história tem o foco central no relacionamento entre Lota de Macedo Soares e Elisabeth Bishop. Em paralelo à trama, diversos olhares sobre o Rio são projetados, o principal dos quais é o Parque do Flamengo.
Assisti ao filme e me emocionei, já que, além de ter conhecido Lota e Elizabeth muito bem, vivenciei a transformação do árido aterro no parque de hoje.
Acudiram-me, enquanto assistia ao filme, conferindo com o texto original da Carmen (cujos detalhes de pesquisa me foram solicitados), lembranças que dormitavam em minhas recordações. Uma delas, e a mais singular, foi a força hercúlea de três personagens para não deixar o parque em construção transformar-se num mafuá, por conta dos políticos da época. Eles, sempre eles, os deputados, fizeram centenas de pedidos para ali se instalarem extravagâncias, tipo “um parque de diversões, com roda gigante e tudo”. Os três defensores do parque, e que disseram não aos pedintes, foram Lota e o Governador Lacerda, acolitados ambos pelo Engenheiro Enaldo Cravo Peixoto, Presidente da SURSAN, que desenvolvia com garra as obras do Estado da Guanabara.
Essa história foi testemunhada por mim, como assessor do Cravo Peixoto. Seriam incontáveis os detalhes que ainda preservo na memória dessa época tão provocadora. Teria muito a contar, como, por exemplo, quando Burle Marx deixou suas funções (substituído por Luiz Emydio Mello Filho), ou de como os postos de iluminação foram projetados pelo designer americano Richard Kelly.
Quero resumir, dizendo-lhes que o Parque foi salvo por um triz. E que, por se ter preservado, cabe a nós, e ao sentimento cívico da carioquice, não liberá-lo para mais nada. Muito menos para duvidosíssimas marinas ou outro mafuás que podem ameaçá-lo.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin