A morte de Emílio Santiago ocorreu no mesmo dia dos 150 anos do nascimento de Ernesto Nazareth, aos vinte de março.
Quero declarar aqui que sempre fui admirador dos dois personagens, que se encontram num dia tão especial, por pura sorte do destino. Ambos viveram em épocas diferentes, ambos representam segmentos distinguidos e de excelência, ambos são luminares de seu tempo.
Emílio Santiago nos deixou um rastro de beleza e de luz. Todo país consagrou por décadas o cantor de voz de veludo, de emissão perfeita, de exação na dificílima arte de cantar bem. Emílio não fez sucesso apenas em originais que ele criou, como “Saigon” ou “Pelo amor de Deus”, para citar apenas duas músicas que se alojaram nos corações brasileiros através de sua voz. Foi também ele o intérprete do melhor do cancioneiro popular de sempre, especialmente bem sucedido na série de elepês “Aquarela Brasileira”. Esses discos tiveram não apenas uma aceitação triunfal no Brasil, até porque se venderam mais de seis milhões de cópias. Mas igualmente, mergulhando na memória musical do país, resgataram o melhor de sempre em música popular.
No dia em que um cantor desse porte morria, celebravam-se os 150 anos de nascimento de Ernesto Nazareth, compositor considerado viga-mestra da definição da música popular brasileira entre o final do século XIX e as décadas iniciais do século XX. Nazareth foi reverenciado com palestra de seu herdeiro e biógrafo Luiz Antônio de Almeida, além da outorga do Diploma Ernesto Nazareth a Rosa Maria Araújo, presidente do Museu da Imagem e do Som.
O compositor Nazareth – para quem não sabe – foi também pianista de renome. Hoje é o segundo autor do Brasil mais executado em salões de concertos do mundo inteiro, só perdendo para Villa-Lobos. Portanto, não sem razão, costumo dizer que Nazareth é o pai e Chiquinha Gonzaga a mãe da estruturação de nosso cancioneiro. Ou seja, ambos são os consolidadores da magia dos ritmos como o choro, o maxixe, a canção brasileira ou a marchinha.
Na solenidade para Nazareth na Urca (no ICCA), também foi prestada a primeira homenagem pública a Emílio. Vale dizer, a convergência de corações e resgates num dia a ser guardado.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin