Nesta semana, em único vértice, realçam-se na Academia Brasileira de Letras dois brasileiros ilustres, mas de procedências culturais diversas: Eduardo Portella e Martinho da Vila. Martinho recebe homenagem na Academia nesta quarta-feira, fazendo show perfilando seus 45 anos de carreira, com sucessos que virtualmente sustentaram a integridade da MPB nesses mais de quatro decênios.
Já o escritor Eduardo Portella está celebrando oitenta anos de idade. Comemoramos a data não apenas seus amigos, mas o Brasil que pensa, que destila as idéias, que formiga no intelecto, Conheci poucas pessoas na vida tão bem aquinhoadas pelas armas da inteligência e da arte que é bem deduzir e adequadamente confrontar idéias.
Quaisquer homenagens que se prestem a ele serão prioritariamente baseadas na extraordinária capacidade do escritor, do ensaísta, do professor, do homem sábio vocacionado para as mais refinadas fímbrias do intelectualismo puro, do pensamento objetivo e certeiro, da forma exata e enxuta.
Mas poucos se darão conta – talvez por isso mesmo, pela densidade da carga de conhecimentos acumulados – do Eduardo Portella mais despojado, mais alinhado aos prazeres do dia a dia.
O baianíssimo Eduardo – para quem o conhece por décadas a fio como eu, testemunha que fui de sua ação junto ao Museu da Imagem e Som, do seu entusiasmo pelos depoimentos para a posteridade, do seu respeito e admiração pelo prêmio Golfinho de Ouro, sempre foi um
homem encantador, polido e simples. Muito simples. A ponto de me perguntar com freqüência no museu sobre os compositores que trouxeram a graça do povo para a nossa música popular.
Quanto a Martinho da Vila, ele representa exatamente isso, ou seja, o melhor da compostura do velho samba carioca, sua dignidade, sua insuperável conexão com a verdadeira alma do povo do Brasil, com seu ritmo doce, balançado e quase sempre embriagador. O melhor do encontro de Martinho no Teatro da Academia, nesta quarta, as 12:30 em ponto, é que tem portões abertos e democráticos, para qualquer pessoa que queira vê-lo e aplaudi-lo.
Ricardo Cravo Albin Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin