Não de hoje devoto a Bibi Ferreira uma admiração quase sacralizada. Agora mesmo, acabei de vê-la mais uma vez no novo Teatro Teresa Raquel, de Copacabana.
Explico logo o detalhe, importantíssimo para bem se avaliar o vigor de nossa estrela maior, aos noventa e um anos: Bibi não está fazendo uma semana apenas de poucos recitais, mas sim um mês inteiro, com direito a récitas extras, tanto nos feriados quanto até em dias de semana.
Lembro-me que quando ela mereceu uma matéria de capa da revista Carioquice, há dois anos, cunhou um pensamento do qual jamais me esqueci: “Só o trabalho no palco, até varrê-lo me estimula, me rejuvenesce. Mas trabalho é trabalho e com ele eu não brinco jamais. Se for para varrer o palco eu varrerei cirurgicamente, até retirar o último pozinho”. Grande Bibi, enorme Bibi, que a cada vez se supera mais e mais, galgando todas as posições a que uma estrela de verdade pode alcançar. Já disse a ela que a considero muito mais que uma artista, que uma cantora. Vejo nela, de verdade, a mulher brasileira, no que pode ter de mais alto. E não é só seu talento. Bibi – se não bastasse o legado pessoal dela na história do Teatro do Brasil – é herdeira também do gigante que foi o pequeno (em tamanho, como o dela própria) Procópio Ferreira. Conheci Procópio, dele me fiz amigo a partir do depoimento para a posteridade que lhe colhi no Museu da Imagem e do Som em 1967. Também agora me acode uma outra frase sobre a filha: “Bibi é meu melhor trabalho. Só que o talento dela é tamanho que não fica nem bem para mim ficar aqui a lhe dizer que eu a fiz. Ela existiria comigo, sem mim, de qualquer jeito. Ah, e tem mais: Bibi Ferreira é e sempre foi melhor que seu velho pai”.
Depoimentos como esse, o de Procópio, arredondam toda uma definição da superioridade desta Abigail Izquiedo Ferreira, a quem todos conhecemos pelo nome tão simples, tão despojado. Mas tão opulento de Bibi Ferreira.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin