Sergio Ricardo não é apenas o cantor e compositor de tantas estimas e de um sem número de afagos públicos pelo povo da música popular do Brasil. Sergio é também cineasta, e dos bons, além de pintor já laureado em salões. Tudo muito? Com certeza. E com razão, porque acaba de merecer a capa da revista cultural que celebra o Rio e seu imbatível estado de espírito, a Carioquice, que já anda circulando pelas redações do país e pelos intelectuais que fazem opinião. O fato é que o autor de tantas joias de nosso cancioneiro vai completar 80 anos agora neste 2012. Motivo mais do que justo para que todos saudemos Sergio Ricardo como uma referência de celebrações no ano novíssimo que acabamos de inaugurar ontem com o estardalhaço habitual.
Aliás, estardalhaço é exatamente o oposto da discreta elegância com que Sergio viveu todas as facetas de artista múltiplo e vário, criativo e refinado. Isto é, a não ser no famosíssimo episódio em que quebrou o violão na coxa, em pleno palco do Festival da Record, em 1967, e o arremessou para a platéia. Mas ali, Sergio foi provocado em seu ardor de jovem, de revolucionário, de idealista.
Nem era para menos, ver-se apupado por uma platéia que nada entendera de seu “Beto Bom de Bola” (e da mensagem sutilmente nela embutida), música solidária e fraterna, além de vazada em termos emocionais, tanto como seu anterior “Zelão”. Este, de certo, um grito de protesto social nos melhores tempos da Bossa Nova dos barquinhos, dos banquinhos e violões da classe média, do sol, do mar, e das garotas das praias cariocas.
Sergio Ricardo, para quem coordenei em 1997 espetáculo antológico no Theatro Municipal, encabeçado por Chico Buarque, para destilar (com orquestra sinfônica e tudo) seu poema sinfônico “Estória de João-Joana”, letrado todo ele por Carlos Drummond, será revisado ainda este mês de janeiro na Urca. Com exposição de seus quadros e com a exibição de seus filmes, inclusive o pouquíssimo conhecido “Juliana do Amor Perdido”. Um raro musical brasileiro que pode facear-se aos antigos de Hollywood. Só que com música, povo, alegria e alma de um Brasil caboclo e solar.
Ricardo Cravo Albin