A semana literária foi marcada pelo lançamento do livro “Jânio Quadros e José Aparecido – O Romance da Renuncia, de José Augusto Ribeiro”, em dois volumes.
O autor, jornalista há 52 anos, já escreveu o opulento “ A Era Vargas ( três volumes) e vivenciou como poucos cronistas políticos a história recente do Brasil. Afinal, a par da militância dentro de jornais,
Zé Augusto foi assessor direto de Tancredo e Brizola. Esses livros perfilam uma suculenta pesquisa de campo, que acaba por fornecer o mais completo relato do brevíssimo
e até hoje não bem compreendido “Governo JQ”. A obra define os inacreditáveis e frenéticos meses de Jânio, tendo como fonte seu principal assessor, José Aparecido de Oliveira. Ao ler, fui despertado para uma revisão de (pré) conceitos sobre o Homem da Vassoura. Hoje, vivemos no Brasil uma revolta contra a corrupção, o que faz estes
livros atualíssimos. Pois Jânio se elegeu para fazer com a vassoura a faxina que, segundo ele ( como agora), infestava o Brasil. Mas – eleito pela direita – Jânio governaria para a esquerda. Ao menos em relação à política externa. Zé Augusto não usou de meias palavras, revelando ter JQ recebido até a insólita adesão de Fidel Castro, que denunciou uma conspiração de Kennedy para derrubar o governo no Brasil por ter-se ele recusado a mandar tropas para se somar à invasão da Baía dos Porcos. De surpresa em surpresa, o leitor é voltado para confirmar um novo pano de fundo sobre JQ: Jânio queria mesmo alinhar o Brasil, então americanófilo, aos neutralistas. Ou seja, deduz-se que JQ e seu chanceler Afonso Arinos são os formuladores da política externa independente de hoje, que agora nos faz integrar o BRICS . Em resumo, além de reconfigurar historicamente a Era Jânio, esta preciosa edição ( feita por Omar Peres solitariamente) reavalia contradições, controvérsias e preconceitos.
Ricardo Cravo Albin Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin