Afinal, o que é o espírito carioca? Pode ser – e é – várias convergências, inúmeras confluências, unicidade até de uma garota de Ipanema ou de uma senhora descendo o morro da Mangueira.
Mas não quero – nem devo – perder-me em generalidades ou alinhavos poéticos quando há coisas concretas (e úteis) a definir como carioquices.
Neste fim de semana, por exemplo, circularam pela cidade tanto o choro carioca quanto a revista Carioquice, ambos afagos ao melhor da alma do Rio.
Quanto ao choro: no sarau sabático (como convém à fruição do choro na tradição dos grandes chorões) do Joel do Bandolim na Urca, os pupilos do mestre e uma pequena multidão de mais de cem pessoas recepcionaram Zélia Duncan, que acabou por receber o Diploma Ernesto Nazareth.
Sabem porque? Pela dedicação – ela uma intérprete de público jovem – às cantoras da era do rádio. Aliás, dias antes, Ronaldinho do Cavaquinho fez em frente ao antigo Cassino da Urca uma homenagem ao chorão Waldir Azevedo. Presente Franklin Coelho, secretário de Eduardo Paes, fez ele uma pergunta decisiva: por quê o Rio não tem uma casa de choro, como o jazz tem em quase todos os Estados Unidos? O Instituto Cravo Albin candidata-se a essa necessidade carioca.
Outra vertente desse espírito do Rio foi a circulação, com seus seis mil exemplares destinados a todas as redações do país, da revista Carioquice. De Antonio Cícero (capa em preto e branco do poeta carioca) ao Morro do Alemão (em ensaio fotográfico de M. Carnaval), a revista está cada vez mais aguçada. Coisas de quintessência da cidade, como a fritada do Paladino da Rua Larga ou o resgate da musa da Bossa Nova Rosana Toledo (no Retiro dos Artistas) e de Assis Valente (nos seus 100 anos) estão lá, deliciando e emocionando quem lê.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin