Num país que preza pouco a memória de homens cujas ações de vida se pautam por padrões pessoais irrepreensíveis, serve-nos de razoável consolo as homenagens a mortos ilustres. Sobretudo no nosso meio, o jornalístico, há uma quase rarefeita procura de consagrações textuais para honrar homens notáveis de nossa imprensa.
Nem me refiro aqui a injustiças permanentes, como o esquecimento a que foi desterrado um vulto lapidar como Barbosa Lima Sobrinho – a quem a Prefeitura do Rio está a dever um busto em praça pública, ou o nome de uma escola, ou até o simples afago de ele titularizar uma nova rua ou avenida.
A morte de Rogério Marinho me faz evocar agora, depois da bela consagração que lhe dedicaram os obituários, algumas de suas qualidades mais interessantes.
Não me detenho aqui na afabilidade e na elegância do convívio, virtude que ele mantinha inalterada, dela usufruindo todas as pessoas que lhe cruzaram a longa vida de 92 anos. Tampouco me referirei – porque sabidamente conhecida – à exemplaridade de sua modéstia, uma “finesse” natural, sempre temperada com condimentos de simplicidade, de bom-humor, de contenção. Ou seja, de uma educação conventual que só nobres de espírito podem esgrimir.
Conheci Rogério Marinho em 1962 através do Engenheiro Enaldo Cravo Peixoto, de quem foi amigo. Enaldo – como eu – era um devoto do jazz e da música popular, o que fez confluir uma série de interesses artísticos entre nós três. Lembro-me de que , nos anos 60, íamos juntos a memoráveis jam-sessions no solar dos Irmãos Sauer nas Laranjeiras.
Rogério – a par de suas funções no jornal fundado por seu pai – dedicava-se com afinco não apenas à música, mas à cultura latu-sensu, além da defesa do meio ambiente.
Infelizmente figuras cavalheirescas e generosas como Rogério Marinho andam cada vez mais raras.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin