Há certas pessoas que comovem as outras com mais força, com mais paixão, até com mais ternura. O título aí de cima se refere a Maria dos Santos, viúva de Ernesto dos Santos, e que acaba de completar cem anos. Pois bem, cabe-me esmiuçar essa história para entendimento de todos e o faço, creiam, com grata emoção pessoal. A Vó Maria não é senão a companheira do Donga, o Ernesto pioneiro do samba e autor do célebre “Pelo telefone”, o primeiro samba gravado em 1917. O mesmíssimo da santíssima trindade Pixinguinha – João da Bahiana –Donga, tão apregoado nos enredos das escolas de samba e nas biroscas do Rio. Fui a missa (na última 5º feira) dos cem anos de minha amiga na antiga Sé e confesso que cheguei as lágrimas. Por razões as mais óbvias, que enumero. A primeira delas por sua inteireza adentrando a igreja, aureolada por beleza plácida, dignidade e irradiadora simplicidade. A seguir pelo que aquela figura pequena, rija e elegante, representou e representa de resistência pessoal, alegria de vida, verdade: mulher negra, pobre, companheira e viúva de sambista. Que em 2001, aos noventa e um de idade, começou carreira como cantora. Exibindo-se, de mais a mais , esplendorosamente num CD que também inaugurou o Instituto Cravo Albin na Urca. Aliás, Vó Maria pode ser considerada – chamo a atenção – um recorde mundial: a mais velha mulher do mundo a ter iniciado carreira de cantora. E precisamente como sambista, interpretando clássicos da MPB ao lado de Martinho da Vila e Beth Carvalho.
Finalmente, evoco daqui que Vó Maria é a mais completa tradução de inquebrantável força da mulher brasileira que singra todas as dficuldades e barreiras . A prova disso veio agora: seu adentrar de rainha – e de conquistadora – no templo lotado por centenas de admiradores de um mito vivo pulsante.E necessário.
Ricardo Cravo Albin