Acaba de inaugurar-se em Brasília uma das tantas idéias parlamentares que, vez por outra, tentam seduzir o país, ao menos o seu lado mais solar, mais consciente, mais necessitado de urgentes cuidados. Enfatizo o verbo (“tentar”) porque há um natural ressabiamento púbico em relação às ações do nosso Congresso Nacional, sacudido quase sempre pela diversidade tanto de suas ações quanto de seus muitos vícios.
Mas esta frente parlamentar pela Cultura agora instalada já nasce sob uma boa aura, rodeada de convincentes intenções. Convocada pela Deputada Jandira Feghali – ela mesma musicista e ex-secretária municipal de Cultura – e com coadjuvação luxuosa do nóvel deputado Stepan Nercessian – cuja administração no Retiro dos Artistas é consagradora – a tal frente me inspira confiança. E ainda agrega esperanças de que uma luta organizada possa nutrir o sofrido e carentíssimo processo cultural deste país com mais recursos, advindos, sobretudo, do próprio orçamento federal. É bom que todos recordemos que a dotação para o setor cultural é quase ridícula e perigosamente insatisfatória para suprir todas suas necessidades e carências. Tanto é assim, que o Ministério da Cultura – agora cheio de novos ideais, com Ana de Holanda à frente, que o aproxima ainda mais da classe artística – fica nos últimos lugares das dotações orçamentárias anuais.
Países desenvolvidos como a França, Espanha, e mesmo alguns irmãos da América Latina conferem à cultura atenções (e verbas) muito mais generosas, porque estão fartas de saber que cultura – e seu provimento adequado – é motivo de salvação nacional. Quando não de auto-estima e auto-respeito de países que se querem melhores, mais fraternos, menos dependentes.
Ricardo Cravo Albin