Os grandes artistas, aqui, acolá, acabou sendo reverenciados no Rio. Agora mesmo, está montada na Caixa Econômica uma das mais belas exposições do ano em artes plásticas, a do pintor Glauco Rodrigues, só que exclusivamente dedicada ao artista gráfico que ele foi.
Glauco – que foi um renovador gráfico de mil e uma ações, a partir sobretudo da inesquecível revista Senhor – esboçou , já ao final de vida, a marca do Instituto Cravo Albin produzindo preciosa
gravura do morro do Pão de Açúcar e da Urca. E ainda a capa (genial) do meu livro “Driblando a Censura”, com um borrão em negro e vermelho que dizia melhor que qualquer coisa sobre as trevas escuras da censura proibitória espargindo o sangue rubro provocado pela anticriação.
Ouso daqui arriscar a opinião de que Glauco foi para o Rio o mesmo cronista plástico que Debret ou Di Cavalcanti. Aliás, o Rio lhe deve homenagens. Especialmente o resgate de obras ainda não realizadas, como o mural emocionado feito para Antonio Callado e que seria construído na pracinha do mesmo nome, no final do Leblon. A propósito: por que não voltam ao Palácio da Cidade os quatro monumentais cariocas por ele pintados com ardor de paixão e que são Pereira Passos, Machado de Assis, Oswaldo Cruz e o Barão de Mauá?
Afinal, Glauco, o retratista do Rio, que pintou de Darcy Ribeiro a Carlos Chagas, merece mais respeito , uma indeclinável e obsequiosa reverência.
Do mesmo tamanho e organicidade que essa exposição que já nasce clássica, tornada possível pela admiração que lhe devotam sua viúva Norma Estelita e o atento curador A.C. Cava. Que perfilam, finalmente, o artista múltiplo e vasto, bafejado pelo gênio que ele sempre foi.
Ricardo Cravo Albin Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin