Não me parece haver qualquer dúvida em relação ao fenômeno da volta do Carnaval de rua do Rio. Lembro-me muito bem – e certamente todos nós que estudamos os folguedos populares – da exclusividade do desfile das escolas de sambas, especialmente a partir de seu esplendor nas décadas de 80 e 90. Era como que se o carnaval carioca ficasse reduzido apenas a elas.
As ruas e os bairros (a exceção da banda de Ipanema) estavam mortos e até o centro vital da Avenida Rio Branco estava agonizante.
Hoje, não. As ruas como que despertaram do silêncio sepulcral de algumas décadas. E – de tanta agitação – passaram até a configurar um grave problema público de ordem. E mesmo de exeqüibilidade da cidade como um todo. Cada bairro tem seus blocos. E toma de botar os blocos na rua…com suas herdas, seus mijões renitentes, seus engarrafamentos.
Os nomes da maioria deles, aliás, são condizentes com a insuperável graça e descontração do carioca.
Mas há um bloco sobre o qual quero projetar aqui um raio de luz. Até porque absolutamente original e benéfico, a partir de sua origem nuclear: o “Inova que eu gosto” celebra a ciência, a inovação, a tecnologia. Pode parecer um paradoxo, uma forçação de barra, uma – mais uma – armação de políticos. Ou de cientistas meio-loucos.
Mas não é. O “Inova” é fruto de um grupo de foliões bem intencionados que trabalha na FINEP, a agência federal que financia a ciência e a tecnologia. E que tem como missão a de definir e propulsionar a inovação. Para que um país ainda insensato e beletrista como o nosso possa sair do palavrório verborráfico. E invista finalmente no conhecimento, na ciência, no pensamento da inovação. Numa palavra: o Bloco usa a alegria para homenagear o conhecimento.
Acode-me falar agora do “Inova de que eu gosto” por duas razões básicas: amanhã, terça, as centenas de foliões (ligados à ciência) farão a escolha do novo samba 2011 do Bloco. E por um júri de notáveis da pesquisa do carnaval e das artes.
A outra razão é muito simplificadora. E que se resume na máxima “é fazendo e apontando o bem, que o lado fraterno e solar de um país pode melhorar”. E propulsionar o bem comum.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin
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