Samba é samba e ponto final, certo? Errado. Primeiro porque os há ótimos e péssimos. Segundo, porque há dezenas de variedades de samba, segundo o verbete específico no nosso Dicionário Cravo Albin da MPB online. Mas nesses dias do carnaval que se avizinha, há dois gêneros que dominam os corações e as mentes dos cariocas: os sambas de enredo ( das escolas é claro) e os sambas de quadra. A diferença entre ambos é capital: os primeiros são encomendados para uma narrativa pontual, enquanto os últimos são espontâneos, suspiros de amor do compositor. Por isso, e exatamente para saudar essa festa de liberdade e de individualização, acabou de se realizar no Rio – ás vésperas do carnaval – o 3º Concurso de Samba de Quadra, movimento tocado com maestria ( e sucesso) pela dupla de produtores culturais Haroldo Costa e Paulo Direito. Este resgate, o do samba livres de amarras de compromissos , essa lufada de ar fresco que brota dos corações e não necessariamente da razão, é antiga reivindicação minha e de muitos dos meus colegas. Posso até assegurar que, desde meus tempos de direção à frente do Museu da Imagem e do Som, nós, os pesquisadores e amantes dos folguedos musicais do Rio, já pedíamos isso, implorávamos até pelo retorno da espontaneidade do poeta-sambista
Na verdade, este festival de agora foi estimulante e vigoroso. Até porque não apenas o resultado do concurso foi conveniente, consagrando nomes de pura antologia como Monarco ( o campeão deste ano) ou Noca da Portela ( o terceiro lugar). Mas também porque se inscreveram mais de 3 mil composições de todo o país. Fato que demonstra – com opulência e paixão – a alma permanente que é realçada pela veia libertária do sambista.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin