O incêndio na Cidade do Samba me abateu. E me comoveu, porque bem sei dos esforços daquela gente humilde nos barracões para preparar um desfile de tão insuspeitas originalidades e magnitude.De mais a mais, o Rio produz o mais surpreendente desfile popular do mundo, envolvendo, é claro, rasgos e traços civilizatórios de essência do povo carioca. A pergunta acima, se bem que nada tenha a ver com as escolas vitimadas, até porque elas saberão dar a volta por cima com a garra habitual, foi feita pelo festejado compositor Pedro Caetano à Mangueira, que andava mais pra lá que pra cá no finalzinho dos anos 40. Pois bem, Pedro Caetano – nasceu há exatos cem anos.
Para Pedro Caetano foi elaborada no Instituto da Urca (que cuida de polir a MPB ) uma série de festejos. Que culminaram com show e com exposição curiossíssima. Onde se perfilam partituras, fotos, discos e objetos.
Pedro é autor de jóias tanto de carnaval quanto de música de meio de ano – assim chamávamos nós, os velhinhos, todo
o repertório não carnavalesco. Foram dezenas dessas músicas que eu perfilei em 1984 no show “ É com esse que eu” , quando o próprio Caetano, ao lado de Marlene e Céu da Boca, cantavam o melhor do seu repertório. Lembro-me que um dia resolvemos homenagear a eterna Miss Martha Rocha, que subiu ao palco e cantou com Marlene e o autor a marchinha Duas Polegadas : “ Por duas polegadas a mais / Passaram a baiana prá trás / Por duas polegadas / E logo nos quadris / Tem dó, tem dó, seu juiz…”
Bons tempos em que o Rio, os políticos, as ruas e o cotidiano eram comentados em reveladoras ( da alma do povo ) marchinhas de carnaval.
Ricardo Cravo Albin Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin