O sentido verdadeiro do que deve ser – ou o que pode ser – um homem honesto é por vezes relativo, fluído até, quando não indefinível em termos absolutos. Mas o jornalista e escritor Moacyr Werneck de Castro – que nos deixou aos 95 anos – bem mereceria no túmulo (que não existe, porque foi cremado semana passada) uma frase tipo “aqui jaz um homem verdadeiramente honesto”. E não apenas porque Moacyr foi um ser humano exemplar ao longo de vida esticada e útil. Ele representou – para tantos de nós, seus colegas de imprensa, de tertúlias literárias, de conversas pessoais, de confidências entre amigos – a configuração da honradez e da integridade. Inclusive na coerência em relação às idéias políticas, sempre destemidas, mas pensadas dentro da sutilíssima conjugação de ação + coração + decência.
Fiz-me ainda mais amigo de Moacyr e Neném (sua adorável esposa) através de Darcy Ribeiro. Que, bruxo que era e vidente de almas translúcidas, tinha por ele uma admiração sem limites.
O fato é que – nas conversas que se espichavam por horas – apreendi também dele o verdadeiro sentido da coerência e da compostura. Que todos deveríamos ter, mas que só tão poucos podem apregoar de verdade. De modo silencioso e canônico, Moacyr foi exemplo para todos nós, que escrevinhamos em jornais ou livros. E que temos a pretensão de informar e por vezes de opinar com infinita pobreza (no meu caso) ante a grandeza de um nobre de espírito e de comportamento como Moacyr Werneck de Castro. Bem fez o Conselho Estadual de Cultura, quando eu o presidia anos atrás, em lhe conferir o Golfinho de Ouro de jornalismo. Como muitíssimo bem fez a ABI, com o Presidente Maurício Azedo à frente, em lhe dedicar há dias tocante homenagem. A que acorreram tantos de nós, velhos e devotados discípulos seus.
Ricardo Cravo Albin
Jornalista e escritor
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