Quem lutou toda uma década contra a burrice da censura em Brasília – o que me rendeu o livro “Driblando a Censura (Ed. Griphus, 2001) – e quem abriu os olhos para o mundo aprendendo a amar o Brasil (e os outros) com os livros de Monteiro Lobato, como eu, não pode ver, senão com horror, o recente episódio que envolve o Conselho Nacional de Educação.
Só agora, depois da intervenção do Ministro Haddad, a ação precipitada e inaceitável de proibir-se o grande escritor parece esmaecer-se. Mas fica o gosto amargo na boca provocado pela truculência, pela falta de informação, pelo brilhareco fácil para as luzes da mídia. Um gosto que agrega o do fel, cumulado pela falta de percepção histórica. Ou por pura intolerância, ligada ao vazio das sutilezas que o hoje “politicamente correto” pode (e deve – mas desde que avaliado em seu tempo) provocar.
O lamentável episódio de atribuir-se a Lobato a pecha de racista nada fica a dever ao de mandar prender Sófocles (morto há 2400 anos na Grécia antiga) no Brasil de 1965. Chego agora a matutar comigo que – no andar da carruagem desses disparates – o “Samba do Crioulo Doido”, clássico de humor do escritor carioca Sérgio Porto, o adorável Stanislaw Ponte Preta (agora com exposição montada no Instituto Cravo Albin, Urca), será a bola da vez. Ou seja, o Festival de Besteiras que Assola o País (o Febeapá) está em ação. Ameaçando prender… e arrebentar. Tal qual, sem tirar nem por, como nos tempos escuros e ainda tão recentes da ditadura.
Razão teve o Presidente da ABL Marcos Vinicios Vilaça ao conceder curta, mas cortante, entrevista ao Jornal Nacional: “Nem cabe comentar, porque é um ato de censura e a Casa de Machado sempre foi contra o ato de proibir qualquer escritor”.
Ricardo Cravo Albin
Jornalista e escritor
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