Embora lembrando – mesmo vagamente – título de livros de Zuenir Ventura ou Joaquim Ferreira dos Santos, este aí acima é o nome de um filme documental. Que acabou de estrear e que me enterneceu. Testemunho logo ao leitor que – embora cinéfilo persistente – nunca fiz aqui comentários sobre filmes. Mas este abre portas para o entendimento do fenômeno cultural que os festivais de música provocaram. E a tal ponto que merece um registro especialíssimo. Até pela reconstrução de uma época, os anos que antecedem o AI-5 de 1968. O filme de Renato Terra e Ricardo Calil esculpe – com artesania e sensibilidade – toda a escultura de três fenômenos singulares: os festivais de música a partir de 1965, o lançamento das novas estrelas da canção popular e o Tropicalismo. Esses três vértices se encontram no Festival da Record em 1967. O filme conjuga a ação da apresentação das cinco finalistas e mais a de Sérgio Ricardo, que sob vaias acabou por jogar o violão em cima da platéia ululante. E ainda exibe os bastidores de 1967, onde logo se realçam resgates de uma época: todos fumavam desbragadamente, o público (atiçado contra a ditadura) participava como ator principal cantando/lendo todas as letras das músicas. Os concorrentes de 67 são até hoje nossas estrelas, mas cabe registrar a conveniência dos depoimentos colhidos agora: o do jurado Sérgio Cabral (confessando ter sido contra as guitarras elétricas do Tropicalismo) aos dos protagonistas Sérgio Ricardo, Chico Buarque, Caetano, Gil e Edu Lobo. Este cunhando uma grande frase – definidora dos festivais e da concorrência dos astros: “Nós éramos, sim, os cavalos de uma corrida e o que importava era chegar na reta final”.
Ricardo Cravo Albin
Jornalista e escritor
www.institutocravoalbin.com.br