O Canecão acaba de ganhar mais uma vez na justiça. Confesso que boa parte de nós – intelectuais – olha com reserva esse debate que se estabeleceu entre a Universidade Federal do Rio e o Canecão. Explico: o Canecão é a mais famosa (e necessária) casa de espetáculos do Brasil, que ocupa por 40 anos uma pequena parcela de enorme terreno da UFRJ em Botafogo. Ao longo desse tempo o Canecão implementou não apenas a revolução do show no Brasil, como escreveu em seu palco toda a história da música popular. Em resumo: passou a ser um “ponto de referência” do Rio. Nós, cariocas que amamos o Rio, já vimos dezenas de cinemas e de teatros serem destruídos sem dó, nem piedade. Apenas pela sede da especulação imobiliária. Aliás, há poucos anos um projeto (duvidoso) quis destruir o Canecão, que acabou por ser tombado como bem cultural da cidade, não sem antes receber abaixo-assinado liderado por gente do porte de Barbosa Lima, Chico Buarque, Oscar Niemeyer ou Bibi Ferreira. A questão é: a UFRJ, alegando que o Canecão paga pouco, anuncia que quer estabelecer ali outra casa cultural. Seria justo se não se observassem duas definições básicas: a primeira é que um ponto de referência – tombado exatamente pela ação contínua de shows nacionais e internacionais – deve ser respeitado em qualquer parte do mundo civilizado. Seria o mesmo que se destruir o Moulin Rouge ou o Carnegie Hall, por firulas administrativas. E a segunda é que uma Universidade não pode disputar com empresários de shows. Mas sim – se for o caso e parece ser – chamá-los à mesa de negociação e redefinir alugueres. E jamais desativar um ponto de referência que por 40 anos assegura palco – e emprego – aos artistas do Brasil.
Ricardo Cravo Albin
Jornalista e escritor
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