A hipocrisia e a falta de caráter sempre andaram a solta por essas bandas. Durante o governo militar, muitos esquerdistas e liberais de ocasião aderiram ao regime, velada ou despudoradamente. Depois da redemocratização, o inverso: muitos direitistas juramentados viraram – como num passe de mágica – liberais. De carteirinha e tudo. Isso, ou seja, a comprovação do que eu costumo chamar de “miséria humana“ ou “vira casaca pontual”, vem a propósito de um raro personagem público que sempre se deu o luxo de ser o oposto desse tipo de fauna. Aristóteles Drummond lança nesta 5ª feira o livro “Relatos da vida – Um conservador integral”, (gordo, com quase 500 páginas), em que tem a coragem de se auto-proclamar conservador e direitista. Ora, num momento em que quase todos os políticos tergiversam, mentem publicamente e sem nenhum pudor, além de trair os ideais com os quais se ergueram na vida pública, este exemplo de retidão bem que vale a pena ser louvado. Conheço Ari Drummond há mais de quarenta anos e não sei de ninguém com maior índice de coerência em seu ideário quanto ele. Entrevistei-o na Rede Vida para que falássemos sobre o seu livro (amanhã no ar, às 20h30). Ari, com elegância, mas firmeza, reiterou tintim por tintim sua convicção conservadora. A que não faltaram defesas candentes do Regime de 64, de líderes como Reagan, Thatcher e Roberto Campos. Além de deixar claríssima sua admiração pelos militares e pela disciplina.
Eu – que estou acostumado a conviver com amigos bem mais à esquerda – só não tomei um susto porque reconheço no meu “mais doce direitista” toda uma coerência de pensamento e de compostura pessoal. Tanto uma, quanto outra, próprias de homens de bem. Que não mudam de opinião ao sabor de possíveis vantagens pessoais.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ
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