O teatro sempre representou, ao longo dos séculos, a possibilidade de magia e encantamento para o ser humano. É a transfiguração da dura realidade do cotidiano para o patamar do sonho e da idealização do inatingível. No Brasil, quero-me deter na tradição do teatro musicado, berço da MPB a partir da opulência da antiga Praça Tiradentes, com seus doze teatros no início do século XX. De tosco e simplório no começo, os musicais atingiram cem anos depois um singular apogeu. E o mais curioso: culminância popularizada por uma dupla, os ainda jovens Claudio Botelho (cantor, ator e tradutor) e Charles Moeller (diretor). Nesses últimos 20 anos, nossos meninos de ouro reconstruíram o Teatro Musical no Brasil, agora soprado por rigor e bom
gosto. Finalmente, um padrão internacional. E tudo isso para lhes dizer que teremos ainda mais uma semana (esta), no Teatro SESC – Copacabana, um “show” retrospectivo dessa quase saga de renovação da dupla Claudio-Charles. O espetáculo – a que assisti com especial encanto – é um quase recital com Claudio Botelho (e três músicos) desfiando as músicas das dezenas de montagens construídas pela dupla. A cada bloco da sequência narrativa, o público (que lotou toda a temporada) se embriaga de memória. E aplaude com entusiasmo, especialmente os textos com músicas brasileiras: os deliciosos Sassaricando (marchinhas de carnaval) e os três shows a partir da obra de Chico Buarque. Eloqüente testemunho não só da memória, embora recente, mas de capacidade criativa. Ricardo Cravo Albin Presidente do Conselho de Empresarial de Cultura da ACRJ www.dicionariompb.com.br