A recente microsérie “Dalva e Herivelto” fez-me refletir sobre um mal que assola o Brasil: o abandono que o país inflige a seus velhos ídolos.
Agorinha mesmo, quero aqui denunciar mais um lance dessa quase tragédia nacional que incide sobre uma amiga muito querida, Carmélia Alves, um ídolo da era do rádio, uma referência que encantou o Brasil como a Rainha do Baião. Carmélia, aos 87 anos, comanda o grupo “Cantoras do Rádio”, antigas intérpretes da era do rádio que, juntas, ainda podiam encher auditórios. Grupo, de resto, que mereceu até um digno filme (longa metragem) feito por produtores curitibanos.
Pois bem, de uns tempos para cá a nossa Rainha do Baião – habitualmente cheia de vida e símbolo de resistência – caiu em depressão. Perguntei-lhe os motivos e a resposta foi cortante: solidão, abandono, falta de palco para cantar. Passou a não se alimentar. E agora – perambulando de hospital em hospital – os amigos, sabendo-a sem tostão, começam a se cotizar para ampará-la. Poucos amigos é verdade, mas preciosos como o cantor Luiz Vieira e o Secretário Júlio Bueno.
O fato é em si mesmo, acabrunhante. Há meses, o Instituto Cravo Albin lançou um manifesto, apoiado pela Socimpro (sociedade autoral muito qualificada), que pedia ajuda para os velhos artistas. Infelizmente, não prosperou. Agora, cabe a consciência crítica (e piedosa) dos dirigentes do país imaginar algo para socorrê-los. Quem sabe um fundo, um pecúlio, uma caixa suplementar de aposentadoria?
Ricardo Cravo Albin
Pres. do Conselho Empresarial da Cultura
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