O mais quente inverno que o Brasil já experimentou acabou. E acabou como se estivéssemos já em pleno verão com mais de 40° a sombra.
No Hemisfério Norte o verão provocou ou precipitou as tragédias na Ásia (terremotos e enchentes), além das muitas mortes por excesso de calor em quase todos os países.
Surpresa? Falta de aviso, de advertências prévias? Em nenhuma hipótese.
Lembro-me como se fosse hoje do horror com que sabia das confabulações entre os presidentes do Brasil (Bolsonaro) e dos Estados Unidos (Trump) ao desprezarem as recomendações do Acordo de Paris, que advertiam dramaticamente sobre as tragédias que desabariam na Terra em caso de mudanças climáticas. Num cenário intimidador que faz conjugar temperaturas indesejáveis ao fenômeno El Nino, todo planeta já atesta hoje que este último mês de julho foi o mês mais quente da História. As projeções pessimistas infelizmente já intimidam: o Brasil experimentará dias de calor jamais vistos não só nos próximos meses, senão também anos e possivelmente décadas, ainda a chegarem. O problema – ante a esse estado de estupefação – é um único, ou seja, como lidar com essas ameaças inescapáveis? E o desconforto para a população? O que faremos como elementar dever de casa? Infelizmente essa é a ponta do iceberg calorífico que está por chegar. O buraco é mais embaixo, ou seja, uma gravíssima equação de organização urbana, com reflexos perigosos para a saúde pública.
Como todos sabemos, estima-se que milhares de pessoas morreram por causas relacionadas ao calor em quase 40 países europeus no ano passado. E aqui, neste país tropical quente por natureza? Sofreremos menos, afirmam ingenuamente alguns incautos. As respostas dos técnicos são um banho de água fria (!) sobre o Brasil. Em curto prazo, informam nossos responsáveis pela saúde pública, será fundamental haver integração entre institutos de meteorologia, Defesa Civil, e outras instâncias de governo.
A população precisa ser informada dos piques extraordinários dos termômetros. Bem como hospitais e postos de saúde também. Haveremos, sim, de adaptar experiências já praticadas no exterior. Caso, por exemplo, de suspenção de atividades em horários críticos, com atenção especial a grupos vulneráveis como crianças, idosos e pessoas portadoras de doenças que exigem cuidados específicos. Além de medidas já tomadas por governos locais, inclusive municipais (em geral desatentos), como a recomendável ingestão de água potável pela população em quantidades muito maiores que as habituais. E ainda a pronta liberação (atenção para os municípios menos atentos!) de fontes, chafarizes e até piscinas públicas para cidadãos se refrescarem. E ainda mais, como obrigatoriedades das autoridades do país: ampliação do horário de funcionamento de ambientes refrigerados. Outras necessidades pontuais: instalação de ventiladores com umidificação, além do estado de emergência no sistema de saúde. Como projetarmos dados novos para um país de lenta mobilização para eventuais emergências? Vale logo exigir que as autoridades comecem a calcular o custo altíssimo da conta a se pagar pela destruição ou desprezo às medidas acauteladoras advertidas lá atrás, há quase uma década.
É obrigação que eu registre aqui o fato de São Paulo (a prefeitura) ter posto em prática uma operação especial: montou dez tendas emergenciais com ambulâncias e oferta de água potável. Não merece registro essa antecipação de São Paulo, que de fato exibe com fartura suas cautelas em favor dos seus habitantes? Ainda da maior cidade do país: SP acaba de anunciar a instalação de ventiladores em unidades de acolhimento da população de rua. Além de instruir planos emergenciais para seu Sistema de Saúde.
E o Rio, uma das cidades mais quentes do país, o que anuncia?
E atenção, muita atenção, oh! desavisados de plantão: os técnicos, todos sem exceção, reiteram que o calorão chegou para ficar. O que fazer? Fontes públicas de água potável como a de Roma? Ótimo, mas não acredito por agora. O possível – e especialistas recomendam de imediato – o plantio de mais árvores pela cidade como um todo. Atentem para isso: 1/3 das 6.700 mortes na Europa durante o calor de 2015 teria sido evitado caso se ampliassem em 30% a arborização. Dados do Instituto Global de Saúde na Espanha, divulgados recentemente. Acredito piamente. E você?
Medida adotada lá do outro lado do mundo, em Cingapura, dá conta de plantio de árvores ao redor, em cima, ou mesmo dentro de edifícios. Por lá, pensa-se mais na tragédia que infelicita o mundo. Inclusive novas ruas e prédios têm sido projetados com pensamento preferencial na circulação de ar mais fresco, e não o que possa estar mais aquecido.
“Quem planeja, ganhará sempre”, como advertiu a sabedoria de Einstein há tantas décadas.
Ricardo Cravo Albin