O Instituto Cultural Cravo Albin, e seu presidente que abre este texto, têm a honra de celebrar hoje um dia fundamental para o Brasil, aquele que marca a estreia da radiofonia neste país.
Esta honra, ou antes este justíssimo orgulho, eu atribuo a dois motivos, um pessoal. O outro, de abrangência e consolidação para o próprio país, já que a expansão do Rádio coincidiu com a chegada do governo revolucionário vindo do Sul com Getúlio Vargas. O que permitiu ao país um reconhecimento que ainda não havia experimentado, desvelando-se seus rincões mais longínquos, estimulados pela imposição das ondas eletromagnéticas.
O pessoal refere-se a mim mesmo, que me devoto desde os dezenove anos a utilizar os microfones para falar do que me apraz e transmitir aos meus ouvintes as músicas que abrigo guardadas no coração.
Comecei na Roquette Pinto com o programa “Jazz, música do século XX”, onde exercitei e expus uma paixão juvenil pelas divas negras do improviso e da liberdade de criar música, ao mesmo tempo em que era interpretada. Uma criação cultural das mais originais registradas no século XX.
Anos depois, ingressei na Radio MEC onde permaneci por quarenta anos ininterruptos, sem jamais sair do ar e sem tirar férias. Paixão pura, que dediquei todo o tempo às fontes da música brasileira, resgate de seus pioneiros, e análise de suas fontes multirraciais.
Ao cumprir trinta anos como produtor-apresentador da Rádio MEC, permaneci a trabalhar espontaneamente sem me aposentar por mais dez. Quando finalmente saí do ar, quarenta anos depois, fui honrado com a medalha Roquette Pinto.
Nesses tempos mais recentes voltei à velha paixão para colaborar, sem remuneração, com o crescimento da emissora que porta o nome do fundador, Roquette Pinto, esse grandíssimo herói do Brasil e cujo gênio e generosidade ainda hoje servem de inspiração para tantos de nós.
PEQUENO RELATO HISTÓRICO
Esta celebração de hoje centra todas as atenções na importância deste veículo de comunicação. Cabe entender as razões pelas quais o rádio ainda desperta grande fascínio em quase todas pessoas, considerado que é uma “paixão nacional”.
O físico alemão Heinrich Rudolf Hertz, responsável por comprovar em 1888 a existência de ondas eletromagnéticas talvez não se desse conta de que a descoberta seria tão relevante para o planeta.
Hoje são mais de dez mil emissoras de rádio FM e AM ativas no Brasil levando informação, cultura e música de maneira clara e acessível a população, de acordo com informações do Ministério das Comunicações.
Como é sabido o rádio nasceu no Brasil em 7 de setembro de 1922 para celebrar o Centenário da Independência do Brasil com a transmissão, à distância e sem fios, da fala do presidente Epitácio Pessoa na inauguração da grande exposição comemorativa.
Edgar Roquette Pinto, um médico e escritor, que pesquisava a radioeletricidade para fins fisiológicos, convenceu a Academia Brasileira de Ciências a patrocinar a criação da Radio Sociedade do Rio de Janeiro que viria a ser a pioneira PRA2, depois a nossa Rádio MEC. As primeiras emissoras de rádio foram clubes ou sociedades de amigos em geral nascidas da união de pessoas encantadas com a nova e sensacional tecnologia. Os famosos “galenas” eram pequenos receptores com uma antena de arame fino que captavam vozes e sons vindos pelo ar.
Em 1900 o Jornal do Comercio do Rio relatou a experiência do padre gaúcho Landell de Moura com vários aparelhos para a propagação do som e da luz através do espaço. Sem recursos o modesto padre Moura não patenteou seus inventos.
O físico italiano Marcone, em 1898 durante exposição em Londres patenteou seu telegrafo sem fio e mais tarde a radiodifusão. Tornou-se, pois, o pai da emissão do rádio.
CRESCIMENTO DA RADIOFONIA
Com Getúlio Vargas no poder foi publicado decreto 20.047 que adotava o modelo de radiodifusão norte-americano, cujos pontos principais eram a concessão de canais a particulares e a legalização da propaganda comercial. A partir de então a radiofonia se implantou com grande vigor e presença em todo o país. Surgiram dezenas, talvez centenas de emissoras. E foram criados centenas e milhares de aparelhos de rádio que recebiam as suas ondas magnéticas, unindo mais uma vez um país que até então não se conhecia, como já enfatizei anteriormente.
Mesmo com a chegada da televisão, quando se pensava que a era da radiofonia se encerraria, isso jamais ocorreu.
A radiofonia continua sobretudo através dos rádios portáteis, através de escritórios, aparelhos celulares, e receptores de rádios nos automóveis.
São esperadas novas tecnologias que deverão conferir à sedução da radiofonia novas vestimentas, novas surpresas e novos públicos a serem conquistados.
Viva o rádio.
Viva seu fundador Roquette Pinto.
Ricardo Cravo Albin, em 13 de fevereiro de 2023.