“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons”. Martin Luther King.
Não de hoje procuro nos jornais diários (O Globo, Correio da Manhã on-line e os paulistanos Folha e Estadão) as colunas assinadas por jornalistas de minha leitura por décadas.
Como todo o país, fiquei especialmente abismado com a Sessão do Congresso Nacional para promulgar a PEC Eleitoral, também apelidada indevidamente de PEC Emergencial. Esperei para ler a reação dos cronistas e comentaristas sobre ato tão excepcional e que derrubou credibilidades políticas à direita e à esquerda.
Escreveu Dorrit Harazin no Globo (artigo “Estamos Cegos”): “A mancha da cegueira não é pequena. Uma cegueira que nos impede de reagir àquilo que desfila à nossa frente: a destruição a marretadas de leis, instituições, Estado de Direito, civilidade em sociedade. Raras vezes houve traficância política tão espúria no Congresso Nacional. Em detrimento de um Brasil viável em futuro quase imediato.”
Nesse quesito, o que é o pior – observo também eu – igualam-se em hipocrisia, cinismo e demagogia a situação e a oposição (469 votos a favor contra 17 míseros congressistas não cegos, para votar a PEC de estelionato eleitoral, embrulhada em papel de presente social). De fato, o Centrão armou toda a artimanha. E deveria haver o embate natural, luta no plenário a favor e contra. O que não ocorreu, fazendo crer aos eleitores que a oposição entregou à situação o próximo presidente Bolsonaro, beneficiário claríssimo do embate. Quem diria, hein! O Lula entregar a eleição a seu principal opositor, assim, sem mais nem menos, de mãos beijadas. Quero crer que tamanha jogada política tão esdrúxula jamais existiu. Ao menos não para mim, atento leitor dos comentaristas desde Castelo Branco e Villas Boas Correia. O pior foi a falta absoluta de atenção das oposições (“que oposições, cara pálida?” – Escreveram-me em e-mails urgentes amigos do New York Times) ao engolir o estado de emergência imposto ao país, como se o Brasil estivesse em guerra, e fosse, por exemplo, a Ucrânia de agora. A emergência, verificou-se de imediato, existe há meses com a inflação e o combustível nas alturas. Só que volto à gozação dos amigos jornalistas sediados de Washington, a tal emergência poderá ser no futuro o estopim para os partidos governistas acalentarem um golpe de estado, acusando eleições fraudulentas em outubro. Aliás, depois da inédita reunião ontem no Alvorada com embaixadores estrangeiros, tudo reforça esses temores.
Outro colunista que anotei, depois de Dorrit, foi Carlos Alberto Sardenberg (no artigo “Uma proeza, pioraram tudo”, do Globo): “é preciso reconhecer a proeza: numa só semana o Congresso Nacional conseguiu desmontar a Constituição, ao derrubar o teto dos gastos, a Lei de Responsabilidade, a regra de ouro – que proibia contrair dívidas para pagar despesas correntes. E, por fim, a Lei Eleitoral, violentada de várias maneiras”. Seria também aperfeiçoado, sem um único pio das oposições, o tal orçamento secreto, chamado pelo candidato do PT o maior escândalo político das últimas décadas. Sardenberg reflete, com toda razão, sobre o porquê da inacreditável união de oposição e situação em assunto tão bem articulado pelo Centrão. Comiseração com a miséria nacional? Não. Só porque as oposições acham que ganharão as eleições, e assim herdarão – pensa a situação – a maldição de um país quase inviável em 2023. Também herdam, caso ganhem, o desastre econômico provocado pelo desmonte das contas públicas. O ponto é o seguinte: o país sofrerá com inflação elevada, juros altos e baixos crescimento.
Eu insisto neste final sobre a inaceitável ausência das oposições nesta PEC Eleitoreira. Mas também me dou conta de que a situação foi alimentada com um pacote de bondades jamais vistas antes no país. E se Bolsonaro ganhar? Como governará com a gastança que o Centrão lhe imporá em 2023? Essa foi uma das considerações mais incômodas que recebi de meus amigos no exterior.
Emiti zero resposta.
Ricardo Cravo Albin
P.S-1: Muito eloquente a vinheta que a TV-Globo vem exibindo para saudar os 125 anos da ABL – Academia Brasileira de Letras. Ideia, por certo, do Presidente da Casa de Machado, Merval Pereira.
P.S-2: Falando em ABL, a sessão solene de seus 125 anos será engrandecida com a entrega do prêmio Machado de Assis ao antropólogo Roberto DaMatta.
P.S-3: Ainda a ABL – Marcada para o dia 2 de setembro a posse solene do recém-eleito Godofredo de Oliveira Neto na Casa de Machado de Assis.
P.S-4: Neste mesmo dia, só que pela manhã, será lançado em Missa Solene no Theatro Municipal o Livro+CD “Pedro I, Compositor inesperado”, com música sacra do Imperador do Brasil. Uma celebração que desvenda um segredo guardado por quase 200 anos, a obra em primeira exibição mundial escrita pelo Emancipador do Brasil.