“O Censo geral no Brasil será sempre a última das políticas públicas que administradores desavisados e bisonhos poderão procrastinar” José Guilherme Merquior, diplomata, ensaísta e acadêmico da ABL.
Há certas notícias que provocam reações contraditórias a um só tempo. E que também apontam leviandade de certos setores do judiciário ao ignorarem realidades urgentes, algumas já até emergenciais.
É precisamente a sentença de Herley Brasil, desconhecido juiz da 2ª Vara Criminal e Cível do Acre, que em decisão liminar determinou que o Censo 2022 deveria incluir campos sobre orientação sexual e identidade de gênero no questionário.
Justa a inclusão de assuntos tão relevantes a serem investigados? Justíssima. Só que tisnadas por um pecado mortal, de imediato apontado pelo IBGE, como apurou o colunista do Globo Lauro Jardim. O instituto pede à AGU para recorrer da decisão por um único e capital motivo, “não haver tempo útil para que todo o material já preparado possa ser refeito”. De fato, recordo que este que lhes escreve publicou aqui inúmeros apelos para a essencialidade da realização do Censo ainda no primeiro semestre de 2012. Lembre-se que o último recenseamento foi feito em 2010. E a pesquisa de 2020 foi adiada por causa da pandemia da Covid-19. E mais uma vez em 2021 por falta de orçamento.
O Censo, de uma necessidade emergencial como afirmou há décadas o gênio precoce de Merquior, tem efeito imediato nos repasses do Fundo de Participação dos públicos-alvo de serviços, como campanhas de vacinação, carência de escolas e dezenas de outras planificações de políticas públicas.
As entrevistas de campo devem começar agora em 10 de agosto. O IBGE alegou publicamente que a menos de dois meses do aguardadíssimo início da operação não é possível incluir mais nada sem atrasos acumulativos que acabarão por tumultuar tudo o que já foi estabelecido.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pediu à AGU que recorra de imediato da sentença, justa na essência mas extemporânea pela demora e pelos atrasos que provocaria. “Seria uma irresponsabilidade arriscar o Censo já tão atrasado. Inserir questões complexas de extrema sutileza como essa requereria testes e estudos aprofundados como os demais que vêm sendo preparados desde 2016”. O IBGE ainda acentuou – com aparente razão – que a mudança causaria “imediato impacto financeiro severo”, muito difícil de ser solucionado a tempo útil pelo Ministério da Fazenda. Afinal, resume o IBGE, “este recenseamento é operação de porte continental e merece ser refletido para atuar com antecedências cautelosas e matemáticas”.
Eis, portanto, caros leitores, uma determinação bem intencionada a um tempo, e prejudicial, além de extemporânea, no imediato seguido tempo.
Por outro lado, a pergunta que não quer calar ser pode realçada na indagação pertinente, “porque esse assunto não foi levantado pelos próprios pesquisadores do IBGE, em tempo útil? Quem confessaria tal buraco em meio às milhares de indagações a que o povo brasileiro será submetido em menos de dois meses?”.
Ainda há pouco comentando com amigos esses desencontros tão prejudicialmente díspares, alguém me lembrou a falta que faz o Febeapá, o antológico Festival de Besteiras que Assola o País, do não menos antológico Sergio Porto, o profeta Stanislaw Ponte Preta. De fato, caso perfeito para ser julgado com relevância por um dos melhores escritores que redefiniram a literatura carioca e seu possível viés acido de críticas e juízos pessoais, tão amados por todas as gentes. A não ser, por certo, pelos cocorocas e debiloides a apregoar tolices a não acabar. Daqui, o meu abraço-homenagem à sua prima Maria Lucia Rangel, filha do tio preferido do Lalau, o crítico Lucio Rangel.
Ricardo Cravo Albin
P.S.1 – Na posse solene do escritor José Paulo Cavalcanti na Academia Brasileira de Letras, Domício Proença Filho que o recebeu em nome da Academia assinalou as qualificações do novo imortal como musico, letrista, compositor e até maestro. Nos cumprimentamos, convidei-o a ser mais um verbete do nosso universal Dicionário Cravo Albin da MPB, hoje acessado por quase 1 milhão de consultas no mundo inteiro.
P.S.2 – A escritora Nélida Piñon ao saber nessa mesma noite que a historiadora Mary del Priore era uma das concorrentes mais cotadas para o grande Premio Pen Clube de Literatura 2022 declarou seu voto para a historiadora. Nélida foi a vencedora no ano anterior, para romancistas.
P.S.3 – O Pen Clube do Brasil decidiu este ano de 2022 prestigiar o item “Ensaistas e historiadores do Brasil”, em celebração ao Bicentenário da Independência.
P.S.4 – O Pen Clube, o único órgão internacional com que contam escritores do Brasil em defesa da liberdade de expressão e do livre pensar, a partir de sua sede mundial em Londres, a que são filiadas cerca de meia centena de instituições do mesmo teor e nome espalhados pelo mundo, fará exibir em sua sede própria da Praia do Flamengo os quatro monólogos vencedores sobre o Tema Pandemia e suas repercussões no movimento literário. Isso ocorrerá presencialmente entre julho e agosto próximos. Com fartos anúncios públicos.
P.S.5 – A Radio Roquette Pinto foi mais uma vez elogiada pelos círculos literários, por continuar a transmitir as últimas posses dos novos acadêmicos na ABL, Fato inédito na radiofonia carioca.
P.S.6 – E falando em Academia Brasileira de Letras, o escritor Godofredo de Oliveira Neto foi eleito com votação significativa de 20 votos. Será homenageado pela Academia Carioca de Letras (de que ele é originário nas lides acadêmicas) e Pen Clube do Brasil em data a ser anunciada em agosto.