“Quem possui a Amazônia, tem o mundo às mãos”.
Albert Camus, prêmio Nobel, em visita ao Brasil
Como muitos de nós, andei pesquisando as expectativas com que o mundo se deparava ante a fala do Presidente do Brasil ao abrir, com a deferência de primeiro Chefe de Estado a discursar na Assembleia Geral da ONU.
O protocolo sempre indicou que os mandatários presentes abordassem em suas falas questões internacionais, que necessariamente fujam das paroquiais. Concluí ao investigar o interesse sobre a política brasileira que a larga maioria dos povos havia privilegiado uma única questão de interesse coletivo sobre o Brasil, a preservação da Floresta do Amazonas. De fato, minhas averiguações determinaram a preservação do meio ambiente, um dos cinco temas mais preocupantes citados pelos dirigentes do planeta, em unanimidade quase religiosa. O assunto fervilha na ONU desde que duzentos cientistas lançaram por lá um alerta severo sobre os riscos que a maior floresta do mundo está a correr. E acrescentaram um adendo corajoso e que nem sempre é valorizado: avisaram que é também urgente a proteção aos povos indígenas que habitam aquele vasto pedaço de diversidade por milhares de anos. Sabedores, portanto, de como protege-la e melhor preservá-la. Os cientistas foram realistas ao alertar que o tempo se esgota para salvar a Amazônia por uma razão de essência, parar de imediato qualquer desmatamento. Mas como? Se eles acreditam que ocorre uma devastação sem freios em quase 2 milhões de Km2 em todo o bioma.
Os cientistas enviaram aos Chefes de Estado as pesquisas mais recentes, dando conta de que a área desmatada em agosto de 2021 teria sido a maior para o mês em dez anos. E o pior: apontam um dedo acusatório para o Governo Federal, que estimularia derrubada de floresta para transformá-la em agronegócio. E agregaram ao documento vistorias feitas nos últimos dez anos. Os meses de agosto com taxas altíssimas de desmatamento foram nos anos de Bolsonaro, 2019, 2020 e 2021, atingindo 2.715 Km2 de floresta derrubada no mês. Essas taxas vergonhosas serão exibidas na próxima reunião mundial de análise do clima em Glasgow.
Ora, infelizmente nosso Presidente não foi assessorado para abordar no seu discurso de abertura aquilo que estava na pauta mais aguardada da Assembleia. E se perdeu em banais questiúnculas paroquiais que a ninguém poderia interessar. Uma pena e um desperdício essa falta de assessoramento de que vem sendo vítima Bolsonaro. Por que isso, Deus do Céu? Ou será que argumentos em defesa do país podem não existir? Pelo continuado de erros políticos públicos de preservação do meio ambiente, sobretudo incidindo em nossos seis valiosíssimos biomas. Que de fato andam mal das pernas. Segundo o cientista Tasso Figueiredo, coordenador do MapBiomas, todos sofrem com o desmatamento. O fogo, ademais, queima ainda (por semanas a fio) a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, uma alta de cerca de 50% a mais em relação ao mesmo mês no ano passado.
No discurso da ONU, o Presidente foi temerário ao se orgulhar de que o país tem 66% de vegetação nativa desde sua descoberta em 1.500.
Segundo Azevedo, da BioMap, isso não é correto. Advertem esses cientistas de que o Brasil não precisa cortar sequer um pé de árvore para expandir a agropecuária. Todo o problema se situa na péssima gestão e assessoramento do Ministério do Meio Ambiente, que de fato amedronta o mundo. Isso porque os cientistas afiançam que já temos áreas abertas e mal aproveitadas que deveriam ser usadas para isso. Atentem: é um dado importante que, caso observado, faria cessar toda a campanha contra o Brasil, agora estigmatizado como inimigo de suas florestas e todo seus biomas, incluindo o Pantanal, a Mata Atlântica e até o Cerrado e a Caatinga, além do Pampa Gaúcho.
Quando retomaremos a consciência? Já é mais que tempo…
Ricardo Cravo Albin – Obs: Já nas Livrarias e em fase de lançamento nas lojas da Travessa o livro da Editora Batel “Pandemia e Pandemônio” – Relatos deste cronista, com recomendações da escritora Nélida Piñon, e dos médicos-cientistas Margareth Dalcolmo e Jerson Lima.