Por décadas a fio é quase um lamento crônico. Aqui ou acolá, há sempre um artista do passado reclamando do abandono, do desterro dos palcos. Em resumo, da falta de memória nacional. Quando essas queixas chegam à imprensa, os veículos de comunicação são generosos e noticiam. Mas a maioria desses lamentos fica mesmo desviada dos olhos públicos. Embora intuamos sua dramática constância e verdade.
O Instituto Cultural Cravo Albin, recebendo, além da parceria, a preferencial adesão da SOCINPRO e solicitando outras, acaba de lançar este manifesto em favor dos “Velhos Artistas da Era do Rádio”, considerando as seguintes razões, todas graves e injustificáveis, num país que se quer mais justo, fraterno e minimamente decente.
- É imoral que os “Velhos Artistas”, que a partir da gloriosa era do rádio encantaram gerações de brasileiros, passem por dificuldades financeiras ao final de vidas gloriosas que fizeram o Brasil cantar e ser mais feliz.
- É injustificável que o Poder Público não crie mecanismos, como uma Carteira de Aposentadoria, criativa e ágil, para prover quantia mensal digna para esses brasileiros “de exceção” e de reconhecimento público.
- É constrangedor que muitos dos astros do passado ainda em boa forma vocal e física não tenham palco. Nem rádio, nem TV. Nem qualquer projeto para abrigá-los a fazer aquilo que sabem e de que carecem, tanto como o pão esquálido que comem: exibirem-se dignamente e em condições técnicas adequadas.
No recentíssimo documentário em longa metragem “As Cantoras do Rádio”, que será exibido em breve, cantoras como Marlene e Carmélia Alves, além de atores como Chico Anysio, chamam a atenção do país, em termos veementes, para o estado de abandono e de quase miserabilidade em que quase todos os artistas do passado patinam ingloriamente.
Por isso, a consciência crítica da cidadania mais responsável denuncia esse estado de coisas imoral, indecente, injusto e contrário aos mínimos padrões de respeito que o Brasil deve a sua memória recente. Que ainda está viva e chora de dor e desolação.
Ricardo Cravo Albin
Pres. do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ
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