Duas observações iniciais se fazem aqui necessárias: a primeira é que não gosto de chamar o queridíssimo músico e compositor Luiz Gonzaga de Gonzagão, apelido que lhe foi pespegado pela indústria fonográfica para diferenciá-lo do filho Gonzaguinha nos anos 1970-80. A segunda é que a Academia Brasileira de Letras – hoje uma das referências mais atuantes da cultura brasileira – também vem prestando tributos a vultos da chamada cultura popular.
Nesta quarta, a Casa de Machado se curva ao centenário daquele que foi o maior responsável por espalhar pelo país todo, a vitalidade, o magnetismo e a diversidade dos ritmos e da poesia do nordeste. Além de alertar, poeticamente, para a tragédia da seca e dos muitos sofrimentos por ela provocados.
Conheci Gonzaga e dele me fiz amigo nos anos 60, quando o cantor sofria um certo abandono por parte do público do Rio de Janeiro, embriagado que estávamos todos pelas novidades da bossa nova e, logo a seguir, da febre dos festivais de música popular. Que ejetavam a cada temporada um surto de gente jovem e mais sofisticada.
Luiz Gonzaga sofria menos que os demais colegas da chamada “Era de Ouro do Rádio”, nos anos 1940-50, porque sabia que tinha público cativo em todo o nordeste, seu berço, sua fonte, sua força. E também seu consolo.
Por essa razão, quando prestou seu histórico depoimento comigo no Museu da Imagem e do Som, ou mesmo nas espichadas conversas que mantínhamos em sua casa na Ilha do Governador, ele sempre dizia, com a graça e o espevitamento tão característicos de sua energia solar: – “Não me avexo, não, porque minha gente lá do norte está comigo em qualquer ocasião. É só eu abrir a voz pro povo me acompanhar e me derrubar de emoção…”.
Agora, com o filme de Breno Silveira, sucesso de bilheteria que retrata vida, obra e relacionamento com o filho Gonzaguinha, ou com a peça de João Fonseca “Gonzagão, a lenda”, em cartaz no SESC Ginástico, só faltava mesmo esta homenagem que a Academia Brasileira de Letras lhe faz nesta quarta, com show, inclusive, de Fidélis do Acordeon e Kiko Horta Quarteto.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin