O Instituto Cultural Cravo Albin para Pesquisa e Fomento das Fontes da Música Popular Brasileira é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, com sede na cidade do Rio de Janeiro, criada em 24 de janeiro de 2001 com a finalidade de promover e incentivar atividades de caráter cultural no campo da pesquisa, reflexão e promoção das fontes que alimentam a cultura e, em especial, a música brasileira, visando a divulgação, defesa e conservação do nosso patrimônio histórico e artístico.

O ICCA dispõe de sede própria, doada por Ricardo Cravo Albin, seu instituidor. Localizada no bairro carioca da Urca e com cerca de 3.000m², a sede abriga uma área social, espaços para reserva técnica, exposição dos acervos e atividades culturais, bem como dependências específicas para o seu funcionamento técnico-administrativo.

O acervo doado ao Instituto por Ricardo Cravo Albin, na ocasião de sua fundação, vem sendo acrescido com outras doações feitas por pesquisadores, colecionadores e demais detentores de acervos congêneres. Atualmente é composto de documentos textuais, fotografias, recortes de jornais e revistas; roteiros e programas de rádio e televisão; roteiros de espetáculos musicais e um Arquivo Fonográfico, com cerca de 60.000 discos de 12, 10 e 8 polegadas ( longplays em vinil, discos 78 em goma laca e compactos simples e duplos), 2.000 fitas sonoras em rolo, 700 em cassete e cerca de 5000 CDs. Complementa este acervo uma coleção de vídeos com depoimentos e programas musicais diversos.

O patrimônio do ICCA compreende, ainda, um acervo museológico formado de peças de indumentária de personalidades da MPB, troféus, medalhas, mobiliário de época, artesanato, além de gravuras, esculturas e quadros a óleo de artistas brasileiros, de reconhecida importância.

O Instituto na voz do seu idealizador

Um dos grandes males que infelicita o Brasil é o pouco apreço das chamadas elites pela preservação dos bens culturais do país. Não nos referimos nem ao chamado bem público, aquilo que pertence a todos nós e que cabe conservar, como museus, patrimônio arquitetônico e até pontos de referência, os pólos de afeto, de estima, marcos de gerações e qualificação da vida no dia a dia. Refiro-me aqui às coleções ou bens individualizados, aqueles que indivíduos de boa vontade passam a juntar ao longo de uma vida, ou mesmo aqueles bens arquitetônicos que algumas pessoas possuem e cuja preservação cabe manter.

No momento em que seus titulares desaparecem, tanto uns quanto os outros ficam à mercê dos herdeiros, quase sempre gerações desconectadas da anterior a que sucedem.

A experiência nos tem ensinado, ao longo de muita observação em vida já alongada, que os que herdam coleções e bens arquitetônicos de valor cultural e histórico – que, afinal, sempre são de valia inestimável ao país – tendem a dispersá-los. Quando não na primeira geração de herdeiros, na segunda quase que certamente.

Movido por esse quadro lastimável, que tem deixado o Brasil muito menos rico em patrimônio cultural do que ele poderia ser, decidimos promover, com apoio necessário dos herdeiros, uma doação radical dos bens familiares a um instituto que eu próprio criei com essa finalidade, o Instituto Cultural Cravo Albin para incremento, pesquisa e defesa da música brasileira e do Rio de Janeiro, ambos objetos de minha paixão.

Essa instituição nasceu, formalmente, nos últimos dias de 2000 e primeiros de 2001, respaldada por dez personalidades cariocas como Affonso Arinos de Mello Franco, Amaro Enes Viana, Martinho da Vila, Maria Beltrão, Maria Eugenia Stein, Octávio Mello Alvarenga, Marcílio Marques Moreira, Leonardo Cravo Albin, Marcos Faver e Rosiska Darcy de Oliveira. Os sócios fundadores do Instituto abrem alas para as solidariedades dos parceiros que irão apoiar o seu desenvolvimento: serão pessoas jurídicas ou físicas que acreditam nas boas intenções, na transparência e nos projetos que refletem a dignidade e o interesse comuns.

O Instituto – uma instituição sem fins lucrativos e no qual os dirigentes são impedidos pelos estatutos de receber remuneração – funciona no sítio histórico-arqueológico do Largo da Mãe do Bispo, uma área de 3000 metros quadrados dentro do braço da Mata Atlântica, abrangendo vários platôs nas encostas dos morros Pão de Açúcar e Urca. O lugar terá sido, certamente, um dos berços onde o Rio foi fundado, já que ali viveram os índios que combateram Mem e Estácio de Sá e os tupinambás, aliados aos franceses de Villegagnon. Esta surpreendente chácara e seus arredores – onde pontifica uma construção de feição colonial bem em frente ao rochedo íngreme do morro de rocha primária – é ligada aoapartamento de cobertura, também doado ao instituto, que faceia o antigo Cassino da Urca.

O Instituto Cravo Albin não apenas oferece à cidade o sítio privilegiado, de onde se descortinam algumas das vistas mais especiais da cidade e da baía. Não apenas colocará à disposição de pesquisadores, agora como bens doados, as coleções específicas sobre a música e a cidade, em discos e livros, todas elas necessitando de urgentes intervenções de preservação, limpeza, catalogação, isso sem nos referirmos à digitalização desejável. Não apenas manterá em exposição permanente uma apreciável coleção de arte brasileira, composta de quadros, objetos e mobiliário de época. O Instituto, estamos certos, está fazendo muito mais que isso. Cria projetos, com idéias generosas e originais, para fazer florescer seus dois objetivos principais que são o levantamento, a preservação necessária dos acervos que estão sendo doados sem parar ao ICCA e a constante promoção do melhor da música brasileira, em especial a popular e a carioca, e a defesa intransigente da dignificação da cidade do Rio de Janeiro.

Acreditamos desse modo, que o acúmulo de tudo isso, desde a doação original às demais que nos chegam, poderá resultar em algo que tenha a benfazeja utilidade de fazer espalhar idéias. Idéias que contribuirão para que a música e o Rio de Janeiro possam enfrentar com galhardia e sem riscos os desafios que chegam com o novo século.

Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin